Giordano Andriola, jornalista e escritor nascido no Rio Grande do Norte é dos mais originais produtores de ficção no Brasil. Explico: vivemos dias em que chamar-se de escritor não significa produzir algo que se possa ler, ou sequer ficção. A geração lacradora da literatura brasileira, aquela turma dos saraus e que cruza as pernas e empina dedos e narizes enquanto penteia o cabelo para os lados, não gosta muito de Giordano. Também pudera.
Ele escreve, os outros não. Perdem-se em conversas em bares e jardins em uma contemplação onanista entre si. Cada vez é mais raro encontrar literatura de verdade no cenário nacional tão repleto de egos inflados, enciumados e aborrecidos.
Quase nada publicado em papel, a obra giordaniana – sim, podemos assim classificar, tem voz própria, é facilmente reconhecida e tem qualidade – percorre os caminhos da periferia da internet e das revistas que ecoam a podridão humana. Entre elas a Chorume Brasil!
Em seu novo livro “A Silenciosa Tragédia de um Tarado Qualquer” alguns dos melhores elementos da sua escrita vêm à tona. Da pieguice propositada do título, lembrando os pastelões do cinema italiano da década de 60, uma mistura entre comédia de costumes e pornô brando – que viriam a ser, aliás, base das pornochanchadas brasileiras -, aos personagens canastrões. Em Giordano o papel de canalha ou canastrão (o sem caráter do bem e com princípios) não é exclusividade dos homens. Suas mulheres são o que quiserem. Fortes, frágeis, fáceis ou ávidas por sexo. Seu protagonista é alguém como nós – e muitos têm vergonha de admitir o que pensam e como agem.
“Nunca tive muita paciência para diálogos. As mulheres parecem perceber isso e me massacram com suas histórias de vida. Parece que o destino sempre me reserva as neuróticas e suas ficções. Eu apenas balanço a cabeça positivamente como um réptil observando a sua presa. Mas eu também recorro à tríade: sim-não-talvez. O que não se faz por uma trepada.”
Psicótico, um quase nada dentro de uma locadora de veículos, empresa de um mais problemático empregador, o protagonista de Giordano é uma representação fiel da ascensão da calhordice masculina.
É com Cleiton, o protagonista, que nos identificamos facilmente. Com suas perversões e taras, sua capacidade em ludibriar e fazer jogos sexuais ainda que o ato não se concretize – frustrado como muitos de nós – em vários momentos. Um personagem que quer tão pouco: “Um canto só meu para que ninguém estranhe minhas manias obscenas: enfiar a mão no saco e cheirar, coçar o cu, beliscar o mamilo. Eu teria um escritório só para mim!”.
Acompanhamos os melhores momentos da novela de Giordano a partir do momento que Cleiton contrata Mica, uma garota de programa com ambições celetistas.
Prosa rápida e divertida, o novo livro de Giordano Andriola é uma ode à mediocridade das nossas vidas, onde felicidade muitas vezes se resume a ter uma boneca inflável e se livrar do chefe. Bem retratando as inversões de valores e as mudanças que nos são reservadas pelo destino, “A Silenciosa Tragédia de Tarado Qualquer” deveria ser adaptada ao teatro. Seu enredo rápido, elenco reduzido e linguagem contemporânea é bem melhor que qualquer coisa que Mário Bortolotto e companhia tenham produzido nos últimos anos.
O livro pode ser encontrado em formato digital na Amazon. A capa do goiano Eduardo Borgez complementa o estilo retrô-cafajeste do personagem principal.
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