Greta Van Fleet faz show maduro diante de uma calorosa plateia no Rio

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Mesmo se você for do time detrator do Greta Van Fleet, deve admitir que a banda é o maior nome do rock surgido nos últimos cinco anos. Talvez, na cena recente, apenas o The Struts rivalize em relevância no mainstream. A banda formada em  Frankenmuth, no Michigan, é composta dos irmãos gêmeos Josh (vocal) e Jake Kiszka (guitarra), e o irmão mais novo deles, Sam (baixo, piano e teclado). Ao trio se juntou o amigo Danny Wagner (bateria).

O GVF desde que emergiu em 2017, com o EP  “From The Fires”, chamou atenção por sua inegável semelhança com o Led Zeppelin. Não demorou para começarem a acusar os rapazes de imitadores de Robert Plant e Jimmy Page. Vale notar que esse ataque parte, na maioria das vezes, de roqueiros mais velhos. Em sua defesa, os Kiszka alegam que seguem a influência do que ouviam na coleção de discos dos pais, que era basicamente rock dos anos 70, incluindo Led Zeppelin.

Essa já é a segunda vez da banda no Brasil. Da outra vez, em 2019, vieram como uma das atrações do Lollapalooza Brasil e agora chegam para abrir os shows do Metallica. Assim como há 3 anos, o Greta veio ao Rio de Janeiro para um show solo. O que se viu na última terça-feira (3) no Qualistage, na Barra da Tijuca, foi um público majoritariamente jovem, com alguns roqueiros mais maduros curiosos, certamente querendo conferir se ao vivo são tão bons (na medida do possível) quanto a matriz.

Daniel Lima abriu os trabalhos em substituição de última hora. Francisco, El Hombre, previsto para o show de abertura, teria membros da banda testando positivo para a COVID. Daniel entreteve a plateia com um competente show apenas de voz e violão, mesclando covers e material autoral. Talvez essa substituição repentina tenha sido responsável pelo atraso de 40 minutos no início da apresentação dos americanos.

Eram 21h40 quando as luzes se apagaram e iniciou no sistema de som um discurso de Josh Kiszka. A banda adentrou ao palco executando ‘Heat Above’, que também abre o último álbum dos rapazes, “The Battle at Garden’s Gate”, de 2021. Foi seguida da zeppeliana ‘When the Curtain Falls’ do primeiro e festejado álbum, “Anthem Of The Peaceful Army”, de 2018, música que foi cantada com bastante entusiasmo pelo público. Logo após ‘Safari Song’ veio um solo de bateria de Wagner, que até poderia ser um pouco menor, mas tal qual nos shows do Led, o baterista precisa ter seu momento de brilhar.

‘Black Smoking Rising’, a seguinte, foi cantada em uníssono pela plateia. Nessa execução do hit do primeiro EP realmente deu para sentir a força que a banda possui junto à nova geração de roqueiros, mas os mais velhos preferem desdenhar. Os gritos de “Olê olê olê olá! Greta! Greta!” surgiam nos intervalos entre uma canção e outra. Após uma sequência de cinco músicas do último álbum (‘Caravel’, ‘Built By Nations’, ‘Age Of Machine’, ‘The Weight Of Dreams’ e ‘My Way, Soon’), a banda fez a retirada do palco de praxe, para retornar ao bis. Daí vieram ‘Light My Love’, ‘Highway Tune’ que emendou os covers de ‘Roll and Tumble Blues’ (Hambone Willie Newbern) e ‘That’s All Right’ (Arthur “Big Boy” Crudup). Curiosa ou propositalmente, não apareceu nenhum cover do Zep.

Foto: Gustavo Maiato – Metal na Lata

Ao vivo o Greta Van Fleet mostra que não é apenas na sonoridade que reside a inspiração no Led Zeppelin. O roteiro do show também demonstra semelhanças. Estão lá longos solos de bateria e de guitarra, as jams, o baixista que também pilota o piano. Até a iluminação remete aos shows do Zeppelin, mas também do que os artistas de rock em geral costumavam usar nos anos 1970. Nada de telão no fundo ou qualquer outro arroubo tecnológico. A ideia é mesmo nos transportar para a época dos ídolos dos rapazes. De diferente apenas a duração. Foi 1h42, mas não tardará para que venham shows longuíssimos como Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham faziam. Basta que eles lancem mais material.

No palco o GVF é pouco papo e muito som. Josh foi econômico ao se dirigir à plateia, apesar de bastante calorosa. Foi um “obrigado” em português aqui, o protocolar “feliz de estar aqui” ali. Mais próximo à reta final, o vocalista pegou uma bandeira do Brasil com o nome da banda bordado, tirou selfie com câmera de fã do gargarejo e distribuiu flores brancas.

Por fim, despindo-se da desconfiança em relação à autenticidade da banda (coisa que esse que vos escreve procurou fazer), o show do Greta Van Fleet é sim uma prova de que o rock não morreu e ainda possui relevância para a nova geração. Uma coisa é ir a um concerto de Paul McCartney, em que os jovens são levados por seus pais. Outra é presenciar Millenials e Zs indo por conta própria assistir a uma banda que faz nada menos que o bom e velho rock n’ roll. É o suficiente para estampar um sorriso no rosto dos amantes do gênero.

Sim, mas e a qualidade? O GVF, do alto de seus cinco anos de intensa estrada, já adquiriam cancha e fazem um show maduro e encorpado. Se os maneirismos vocais de Josh soam como Plant, até mesmo ao se dirigir à plateia, e Jake se veste com trajes que remetem imediatamente aos de Jimmy Page, olhemos pelo lado positivo: o quarteto também consegue emular de forma assombrosa o punch que o Led Zeppelin possuía em cima do palco, o que não é tarefa nem um pouco fácil. Esse é sem dúvida um grande trunfo.

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