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"House of Cards" e o desacerto de seu fim

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Para além de todo imbroglio envolvendo a demissão do ator Kevin Spacey, a maneira atrapalhada como House of Cards terminou tem muito mais a ver com o complicado desenvolvimento da série até ali.
A sexta e última temporada está focada na ascensão de Claire Underwood (Robin Wright, precisa) como presidenta, após a morte do marido, e as intrigas que vem com isso. Mas precisamente através da família Shepherd, Annette (Diane Lane) e Bill Shepherd (Greg Kinnear), membros de uma oligarquia americana acostumados a manipular o poder executivo aos seus interesses.
Nada parece ter mais força que o fantasma de seu marido Frank Underwood que a assombra sobretudo num momento em que ela mais se isola emocional e institucionalmente.

As duas últimas temporadas já vinham apresentando problemas sérios de desenvolvimento das tramas, uma vez que o dramaturgicamente já não conseguiam sair do lugar e diluía possibilidades de personagens tão importantes como Doug (Michael Kelly), tão assertivo em sua composição que até nessa última temporada, sempre fica a sensação de que o roteiro não consegue dar conta da dimensão dele.
Talvez pela urgência do final, é impressionante como a história se perde em digressões (a forçada peripécia feminista do governo de Claire ou arco dramático perdido de Jane Davis, mesmo em interpretação irretocável de Patricia Clarkson), e culminando numa última cena com toques Shakespeareanos como se para escamotear a falta de coesão da situação.
Assim, a antes sutileza narrativa crítica das instituições públicas dos primeiros anos, dá lugar a banais intrigas palacianas sobre a auto afirmação da ambição de Claire. E a série sai de cena sem realmente encontrar seu rumo, independente de Spacey. Talvez não tenha sabido lidar com suas próprias possibilidades. Ou era apenas uma série boa, superestimada demais para o que tinha guardado…

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