“Jéssica Jones – Filha Púrpura”: Kelly Thompson apresenta um olhar emocional para a personagem

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Jessica Jones – Filha Púrpura (Jessica Jones: The Purple Daughter), de Kelly Thompson (roteiro) e Mattia de Iulis (arte), mergulha o personagem da Marvel Comics em uma batalha final contra o maior de seus medos e nos dá uma história sombria que impressiona pela abordagem emocional que é desenvolvida.

Sinopse:

Quando sua filha chega em casa com a pele toda roxa, Jessica Jones se vê forçada a questionar tudo que ela pensava saber sobre o período que passou com o Homem Púrpura — e até mesmo seu casamento com Luke Cage; enquanto mergulha mais fundo nas trevas de sua própria vida, onde irá encontrar alívio ou mais um pesadelo?

Análise

Alias lançou as bases para uma situação que Jessica Jones sofresse até hoje, no caso o trauma que a marcou em torno da figura do Homem Púrpura, também conhecido como Zebediah Killgrave. Brian Michael Bendis submeteu a heroína  a uma história de abuso mental e físico que a quebrou psicologicamente e mudou a vida de Jessica.  Uma narrativa muito difícil que marcou para sempre a personagem e que, até hoje, os ecos das feridas na alma do protagonista continuam a ressoar.

Após esses eventos no passado, a vida de Jessica Jones se transforma pelas mãos de Luke Cage e da sua filha. Mas para chegar lá, longa foram as noites sem dormir, os pensamentos autodestrutivos, as garrafas de uísque vazias no escritório, os comprimidos guardados na primeira gaveta da secretária e o medo de praticamente tudo.

Com Killgrave “supostamente” morto e Jones numa nova rotina, esperançosa, a personagem  começa a fazer o bem que ela havia parado de acreditar. E é aí que chegamos a esta HQ, Jessica Jones: The Purple Daughter, publicada recentemente pela Panini.

O trauma

Como já abordarmos anteriormente, para entender o que acontece nesta HQ, é inevitável rever a história que Jessica teve com seu maior inimigo. Brian Michael Bendis a sujeitou a um abuso muito duro nas mãos do Homem Púrpura e agora, depois de conseguir deixar todos os seus medos para trás e ter estabelecido as bases de uma vida feliz e acompanhada, nada a ver com a tristeza e a solidão que emanavam em Alias.

Depois de tudo, a sombra do maior medo de Jessica vem à tona e quebra a heroína novamente. Jessica acorda um dia e encontra a pele de sua filha em um tom levemente roxo. Imediatamente, ela sabe quem está por trás daquela mudança, que se acentua cada vez mais. Entretanto, não tem certeza que sua nêmesis esteja orquestrando tudo aquilo, já que está morto.

Jessica racionaliza duas possibilidades: ou o Homem Púrpura ainda está por aí ou ela concebeu Danielle enquanto ainda estava sob o controle mental abusivo do Homem Púrpura. Ambos os cenários carregam seus próprios horrores.


Roxo, para Jess, significa trauma. É um gatilho literal para neste momento. E a narrativa apresenta a personagem como uma sobrevivente; e como pessoa tem que admitir para si mesma o que está acontecendo e como detetive particular, ela tem que encontrar uma maneira de investigar.

Thompson deixa claro, desde o primeiro momento, que queria explorar essa abordagem, que pode afastar leitores não acostumados com a temática. As tentativas de Jessica de descobrir o que realmente está acontecendo é a trilha seguida pela roteirista, e ao longo do caminho encontramos rostos familiares e algumas cenas de ação. O ritmo do livro é bem traçado, mantendo seu interesse pelas cenas investigativas e construindo bem o suspense para a ação.

O aspecto visual, apesar de ter perdido a arte visual de Michael Gaydos ao longo desta nova etapa; ganha toques realistícos com os pincéis de Mattia de Iulis, traços nítidos e bem definidas, uma linguagem corporal expressiva e maravilhosamente realizada – arte completa.

Bem acertada o desenvolvimento narrativo, mas que chega a um final não tão denso pela estrutura apresentada deste o início. Mesmo assim, sem dar spoilers, Jessica Jones: Filha Púrpura é um título comovente, violento, sombrio e agridoce; mas acima de tudo, uma história de esperança.

Nota: Bom (3 de 5 estrelas)

Cadorno Teles
WRITTEN BY

Cadorno Teles

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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