José Falero e as crônicas de “Mas em que mundo tu vive?”

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Publicados originalmente na revista digital Parêntese, os textos de Mas Em Que Mundo Tu Vive? revisitam o gênero que é uma das tradições literárias brasileiras, mas trazem a contribuição única de seu autor. Falam do cotidiano, seja com lirismo, seja com o olhar atilado de um observador da vida ao sul do país. Mas também alargam os limites do gênero: misturam ensaio e ficção, memorialismo e crítica ácida, para oferecer ao leitor um retrato sem retoques de jovens em busca de um rumo na vida.

Terceiro livro do gaúcho José Falero, é um apanhado de crônicas que tratam das condições de vida de jovens negros e seus desafios. Publicado pela Todavia, o livro traz um pouco das ‘quebradas’ de Porto Alegre, da periferia da Lomba no Pinheiro e nele, encontramos o eco de Carolina Maria de Jesus, uma das vozes mais importantes da literatura brasileira, revelando o seu raio-x na capital gaúcha, entre o centro e a periferia.

“Toda vez que escrevo, sinto como se estivesse numa briga mortal contra o texto. Às vezes, venço, e o texto morre, apunhalado pela lâmina fria da técnica. Outras vezes, quem vence é o texto, e quem sai morto sou eu, depois de gastar até a última gota de vida tentando esculpi-lo.”

Um mergulho pessoal na periferia de Porto Alegre

A habilidade de contar causos, com argumentações inteligentes nos presenteia com crônicas de quem conhece a periferia de uma grande cidade, como Porto Alegre. Autobiográficas e bem humoradas, as crônicas mostram mais da pessoa do autor, como um bom peladeiro de futebol, como estudante, como parte de uma família.

Também encontramos as vozes interpretadas daqueles trabalhadores que vivenciam o cotidiano mais difícil de uma cidade grande. Aquele que limpa banheiros, de quem atende em restaurantes, de quem é peão de obra, de quem vende coisas nas ruas, de quem pega ônibus lotado, de quem assiste a violência em seus bairros… Sendo essa abordagem nas crônicas, mostrando o racismo, a exploração e a separação das pessoas frente a quem não é privilegiado.

Experiências descritas no presente e no passado do autor, como de uma visita ao Centro de Porto Alegre durante a pandemia ou lembrando de seus primeiros trabalhos. E é um dos aspectos principais do seu texto, o quanto é precário o trabalho de grande parcela da população brasileira, das jornadas extenuantes à perda de direitos trabalhistas.

E de sua maneira, questiona o leitor, confidenciando suas agruras e seus desatinos pessoais, sentidos e vividos na periferia. Numa linguagem falada nas ruas, com as gírias regionais e a influência do rap, numa imagem do país que ecoa do título para nossas cabeças e nos deixa assim a se perguntar… Mas em que mundo tu vive?

Nota: Excelente – 4 de 5 estrelas

Cadorno Teles
WRITTEN BY

Cadorno Teles

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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