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Livro de contos "Antes do Zoológico" sintetiza pela linguagem as nuances do homem contemporâneo

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Se houvesse uma rixa ou um racha entre a lisura e a concisão? A lisura costuma ser verborrágica? Ela tem verbo até na língua. Coça até o vernáculo. Mas diria o oráculo, com seus óculos míopes, que a lisura tem um inimigo pavoroso andando atrás dela: a concisão.  Essa senhora, que já andou pelas bibliotecas de gente como o Machado, o Andrade,  tem uma verve excluindo o verbo. Uma verve de causar buracos pior do que do metrô na Gávea. Sim, ela mexe com buracos do sentido. Ela já conversou muito com o duplo…  sentido, este personagem que habita os subterrâneos da ficção. Não há lisura em buracos onde o autor bota seu dedo.
Este parece ser a grande sacada do livro Antes do Zoológico do escritor Franklin Valverde (editora Patuá). Em botar o dedo nas feridas abertas e não cicatrizadas do mundo cada vez mais palavroso e não silenciado onde humanos criam confusão com modo e jeitos de operar na língua. Quando você acaba com a diferença entre ações-opiniões, cria-se uma tábua rasa de consensos, de afirmações consentidas.
Franklin em contos curtos, mostra quase uma variação do absurdo das relações sociais, medidas pela mentira, pela cumplicidade excessiva, pelo compadrio. É muito interessante como o autor cria lapsos de desmascaramentos, das convenções sociais mediadas pela linguagem. Mas a língua, traí. Pois ela tem veios e fendas que ao homem falar, há uma dupla hélice de verbalização, no meio do discurso uma palavra escapulirá da sua mente , trazendo à flora, uma ideia recalcada.
E nesta posição de recalque, que o autor trabalha uma ironia sobre os desnudamentos dos seus personagens. Na segunda e terceira parte, Franklin de forma muito arguta, lapida frases onde esta mesma posição descrita acima nos contos da primeira parte, sintetizam o homem contemporâneo em suas fraquezas, em suas complexidades do humano, demasiado humano.

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