AcervoCríticasLiteratura

“Lúcida” faz do thriller psicológico um encontro equilibrado entre o desejo de ser outra pessoa e a verdade

Compartilhe
Compartilhe

E se você pudesse sonhar seu caminho para uma vida diferente? E se você pudesse escolher viver essa vida para sempre? Sloane e Maggie nunca se conheceram. Maggie é uma mocinha que vive em Nova York, aspirante a atriz, com uma mãe workaholic e órfã de pai, falecido há alguns anos, do qual era muito próxima, vive independente nesse meio artístico que a rodeia. Já Sloane é a típica adolescente norte-americana, de uma cidadezinha de Connecticut, aluna nota 10, enfrentando o ensino médio, as amizades e as disputas desta época, em meio a uma família numerosa e muito amável, além da morte de seu melhor amigo.

Há anos trabalhando juntos em roteiros, Ron Bass e Adrienne Stoltz trazem uma perspectiva bem diferente. Digno de adaptação cinematográfica, Lúcida tem como protagonistas essas duas meninas com características semelhantes: inteligentes, intensas e criativas. Embora as semelhanças parem por aí, a verdade é que elas compartilham um segredo: toda noite, uma sonha que é a outra.

Quanto mais profundo são puxadas para dentro de suas próprias vidas, mais seus mundos começam a se desfocar perigosamente juntos. Pouco tempo depois, Sloane e Maggie não podem mais dizer qual é a vida real e qual é apenas um sonho. Elas percebem que, eventualmente, terão que escolher uma vida para acordar, ou arriscar na espiral da insanidade. O problema que isso significa desistir de um mundo, um amor e um eu, para sempre.

O conceito criado pelos autores pode até parecer um daqueles romances açucarados, com triângulo amoroso e tudo. Lúcida não tem só um, tem dois triângulos. Pois há duas meninas. Ou será só uma? Ou nenhuma garota? Há alguém por trás disso tudo? Levanto essas dúvidas pela forma que a história das duas moças de 17 anos se espelham frouxamente, mas alguns detalhes vazam, apenas o suficiente para alertar o leitor de que os dois personagens estão relacionados de alguma forma.

Sloane, se sente mais real, porque vive uma vida normal daquela que você pode se relacionar com mais facilidade. Já Maggie, a atriz, tem o psiquiatra, inventa histórias sobre as pessoas e a que duvida mais de sua própria realidade. O que compensa é que ela tem a vida mais glamourosa e, portanto, posa como suspeito de ser o fictício … supondo que uma das meninas não seja real, lembrando das minhas dúvidas, rsrsrs.

Não sei se a dupla de autores dividiu o trabalho, ou colaborou em todo o livro, ou se revezou na revisão dos capítulos. O que descobri é que tanto Bass quanto Stoltz descreviam seu cenário com base em suas cidades natais, Nova Iorque, NY e Mystic, Connecticut. De qualquer forma, os capítulos fluem perfeitamente, e enquanto as duas garotas mantêm suas peculiaridades e têm vozes diferentes, seus fluxos de consciência conseguem soar no mesmo tom quando se trata do básico.

Além das recorrentes especulações do que é real ou não é, a maior parte das turbulências emocionais de Maggie e Sloane gira em torno do amor. E é aqui que entra a parte dos triângulos amorosos. Muitos detalhes, açucarados por sinal, que conseguem tirar o ritmo da narrativa, tirando o foco do thriller psicológico e direcionando para mais um Ya-Lit.

Enfim, em meio a um final questionável ou simbólico, em meio a atração de uma boa capa, o livro pode ser uma leitura difícil pela abordagem dos autores. Porém, considerando que uma pessoa em uma determinada situação precisaria de muito trabalho para voltar a real, Lúcida conecta bem com o simbolismo que os autores querem repassar. Recomendado, mas com essa ressalva de uma segunda leitura.

Compartilhe
Por
Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

Comente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos
CríticasFilmes

Ainda Estou Aqui trata da angustiante incerteza

“Ainda Estou Aqui” é mais um filme a tratar do período da...

AgendaLiteraturaQuadrinhos

Evento na Gibiteca de Curitiba celebra impacto de “O Mágico de Oz”

O projeto NA-NU na Gibiteca de Curitiba chega a sua terceira edição...

CríticasFilmes

Todo Tempo Que Temos foge do drama romântico meramente lacrimoso

É muito provável que ao se deparar com o trailer de “Todo...

ClássicosCríticasFilmes

Resenha Crítica de Com uma Pulga Atrás da Orelha (1968)

A adaptação cinematográfica de Com uma Pulga Atrás da Orelha (1968), dirigida...

CríticasGames

Gori: Cuddly Carnage | Frenético e Feral

Seria esse o hack’n slash que encerrará com chave de ouro as...

CríticasLiteratura

Resenha de “Noites cruas”, de Jean Soter

* Por Thaís Campolina Em “Noites cruas”, Jean Soter nos mostra que...