Assim como David Bowie, Madonna está sempre em busca da reinvenção. E da renovação. Aos 60 anos (completa 61 em agosto), a rainha do pop lança seu novo disco “Madame X” sem poupar esforços para soar “nova”. E para esse desiderato recorreu a sua usual estratégia: produtores/DJs em voga (continuando sua parceria com Diplo) e jovens nomes da cena musical. Só que dessa vez ela quis mostrar que, além de up to date é globalizada.
Não é de hoje que a material girl flerta com ritmos de outros cantos do mundo. Em 1986 ela gravou a deliciosa ‘La Isla Bonita’ cheia de bossa caribenha. Em seus shows gosta de dar roupagens étnicas para alguns de seus clássicos.
Nesse novo disco, ela entra na moda do reggeaton na faixa ‘Medellín’, parceria com Maluma, que abre os trabalhos. Se não é brilhante, pelo menos cumpre com o propósito principal de fazer dançar. Outra faixa que ela divide com o colombiano é ‘Bitch I’m Loca’. Fica claro que a loura quer pegar algumas pepitas de ouro deixadas pelo ‘Despacito’ de Luis Fonsi.
E, claro, não poderíamos deixar de lembrar que o Brasil entrou no percurso desse passeio por culturas tendo Anitta como anfitriã. A faixa ‘Faz Gostoso’ em que Madonna divide os vocais com a brasileira é basicamente um pop calcado no funk carioca, estilo que consagrou a cantora e gerou uma horda de clones. Absolutamente nada de especial. Pode agradar ao público internacional, mas é curioso (e engraçado) ouvir a maior estrela do pop mundial cantando em português “Eu não nego ele é safado/E ainda por cima é carinhoso/Ele faz tão gostoso”.
Mas a conexão com a nossa língua fica evidente em outras faixas, que apresentam frases em português. A cantora atualmente vive em Portugal e os ares lusófilos ficam evidentes em ‘Killers Who Are Partying’. Não só pelo refrão em que ela canta em um esforçado português “o mundo é selvagem/o caminho é solitário”, mas pela sonoridade que remete à península ibérica. O idioma de Camões faz aparições também em ‘Crazy’ e ‘Extreme Occident’.
Ainda na seara das colaborações, novos nomes do hip hop marcam presença no álbum. Swae Lee, da dupla Rae Sremmurd, faz uma (dispensável) participação em ‘Crave’. Quavo, do Migos, tem melhor resultado em ‘Future’.
Madame X alterna composições sofisticadas e momentos inspirados com faixas sufocadas pelo excesso de produção para compensar esvaziamento de inspiração. Algumas faixas, como ‘Looking For Mercy’, mesclam os dois exemplos em si. Entre os destaques positivos estão a hipnótica ‘Dark Ballet’ e ‘Come Alive’ – que resgata a aura do álbum “Ray of Light” – além de ‘I Don’t Search I Find’ pode remeter uma versão moderna de ‘Vogue’. Quando ela diz “finally enough love” é certamente se referindo ao amor próprio como o mais importante, e dá impressão de que a separação de Guy Ritchie ainda reverbera em suas letras.
O nome escolhido para o álbum é na verdade o apelido que Madonna ganhou aos 19 anos da professora de dança, por mudar de identidade toda aula. Ali sua característica camaleônica já se evidenciava. Acima de tudo, “Madame X” procura justamente mostrar essa faceta variegada, mas tem na falta de coesão seu ponto fraco. Mesmo nos momentos brilhantes fica a impressão de se tratar de um aglomerado de singles. Como a maioria dos discos lançados nessa era do streaming. Mas o toque de Midas da cantora e o acabamento impecável das gravações se encarregam de não deixar o ritmo atravessar.
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