Mãe x Androides (2022), uma distopia com metáforas sobre a natureza e o sagrado

O robô é uma figura chave da modernidade na literatura. Fruto do sistema de linhas de produção, conhecido como fordismo e da automação fabril, encarna em muito o medo dos trabalhadores de que não eram mais necessários porque seriam substituídos por máquinas. Com o passar dos anos, o receio se tornou parte do cotidiano e do avanço da tecnologia.

Desde a primeira vez que a palavra robô apareceu, cunhada pelo escritor tcheco Karel Čapek, o imaginário ocidental abordou a figura ao lado de uma revolução apocalíptica: onde os escravos robóticos se rebelariam contra os seres humanos. Perfeição contra imperfeição, a rebelião das máquinas ficou famosa pelo filme cult Exterminador do Futuro (Terminator,1984) e que reaparece em inúmeras obras, como em Mãe x Androides de Mattson Tomlin, que chegou recentemente a Netflix.

Georgia Olsen (Chloë Grace Moretz) é uma estudante do ensino médio cuja vida vira de cabeça para baixo em uma véspera de Natal. A descoberta repentina de que está grávida de seu namorado Sam (Algee Smith) a deixa desesperada, mas o assunto fica em segundo plano quando uma falha cibernética transforma os robôs mordomos, extremamente difundidos em toda a América, em armas mortíferas.

Nove meses depois, Georgia, prestes a dar à luz, atravessa o país com o namorado, numa jornada perigosa, pois os EUA foram devastados pelos androides. A única esperança [e chegar em Boston, cujos boatos, recebe refugiados com crianças para reconstruir uma sociedade civil na Coréia.


O bebê a nascer representa uma figura de esperança, portadora de vida, quase um novo Messias carregado no ventre por uma Maria pós-apocalíptica representada por Chloë (Kick-Ass: Quebrando Tudo) com um lenço azul na cabeça, objeto-símbolo da iconografia sagrada. Também temos a peregrinação de uma família em busca de um lugar seguro para parir, mas encontrando apenas portas trancadas.

Esse paralelismo religioso consegue retrabalhar um argumento clássico da ficção científica distópica em uma abordagem decididamente nova. Como muitas vezes acontece neste gênero de filmes, o apocalipse se torna uma metáfora para uma sociedade superficial, acostumada a considerar o mundo como uma cornucópia da qual se extrai infinitamente e sem consequências, e é forçada a enfrentar seus pecados quando o mundo decide rebelar-se contra a sua vontade.

A criança torna-se então o porta-voz de uma nova geração, um novo tipo de humanidade que deve se afastar da dependência da tecnologia: não é por acaso que a Floresta tem um nome que espera uma comunhão entre o homem e a natureza.

Entretanto, a tentativa de mergulhar nos sentimentos dos protagonistas é tão artificial que longe de nos afastar, nos causa indiferença.

Em um cenário onde as distopias são cada vez mais comuns, Mãe x Androides dá um novo foco ao gênero de filmes de ficção científica, encontrando uma grande força na interpretação inspirada de Chloë Grace Moretz.

Nota: Bom – 3 de 5 estrelas

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