Não sei se isso acontece com você, mas comigo acontece sempre: quando estou vendo algum filme ou série, imagino como seria se eu estivesse inserida naquele universo, interagindo com aqueles personagens. No mundo do entretenimento, a gente comum em geral só interage com reality shows, seja votando ou participando deles, e nas outras produções é relegado ao papel de “público”. Isso mudou na série Na Mira do Júri, em que uma pessoa comum – um de nós! – participa sem saber de um julgamento fake, estando cercado por atores.
Ronald Gladden, empreiteiro especializado em painéis solares, foi convocado para ser jurado num caso curioso: o de um empregado numa confecção de roupas que foi trabalhar drogado e imprimiu errado milhares de camisetas. A história, com camisetas com uma sigla ligada a grupos de supremacia branca, viralizou e prejudicou a dona da empresa, que agora leva seu ex-funcionário para o banco dos réus.
Ronald é mais que um simples jurado: escolhido pelo juiz como Presidente do Júri, ele precisa manter todos os outros jurados na linha, o que é tarefa complicada: cada um deles é extremamente excêntrico. Para piorar, o juiz determinou que o júri precisa ficar isolado em um hotel enquanto durar o julgamento.
Todos os atores de Na Mira do Júri são virtualmente desconhecidos, com uma exceção: James Marsden, de filmes como “Sonic” e séries como “Westworld”. Interpretando uma versão exagerada de si mesmo, muito autocentrado, egoísta e deslumbrado com a fama, Marsden é responsável por muitas situações de riso, até mesmo quando está por trás das cenas.
O absurdo não está presente somente no jurados. Na hora do julgamento, o réu, defendido por um advogado meia-boca, decide representar a si mesmo, numa sequência hilária de auto-interrogatório. O interrogatório da requerente também gera muitas risadas por ser pouco convencional.
A pergunta que não quer calar: quem realmente é a atração de Na Mira do Júri? Seria Ronald que estaria sendo “assistido” por todos os atores ao seu redor durante as gravações? É nele que focamos nossa atenção, pois é ele a “pessoa comum” que representa o público. Assim, o nosso foco fica menos no desenrolar do julgamento e mais nas reações de Ronald a tudo que acontece de maluco ao seu redor.
Na Mira do Júri foi criado por Lee Eisenberg e Gene Stupnitsky, que foram produtores e roteiristas da série de comédia The Office, ou seja, tinham familiaridade com o formato mockumentary, isto é, o falso documentário construído para dar vazão a situações cômicas. Eram advogados na vida real o defensor e o promotor do caso, assim como o juiz, que já se aposentou dos tribunais.
O último episódio – o da revelação – é um deleite à parte. Além da reação de Ronald ao descobrir que tudo era falso, temos também um passeio pelos bastidores da série, acompanhando como foi possível manter a pegadinha acontecendo por tanto tempo, com reações rápidas de direção e roteiristas às ações de Ronald.
Uma segunda temporada seria bem-vinda, mas talvez ela não seja possível. Talvez não dê para manter uma pegadinha elaborada rolando por tanto tempo e envolvendo tanta gente. Talvez não seja possível encontrar alguém tão simpático e empático quanto Ronald, e que nunca tenha ouvido falar da série para repetir o truque. Indicado a quatro prêmios Emmy, incluindo Melhor Série de Comédia, Na Mira do Júri pode provavelmente encerrar seu caso agora, mas já fez história por sua originalidade.
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