A terceira temporada de Narcos, depois da bem construída jornada biográfica de Pablo Escobar (consequentemente da performance irrepreensível de Wagner Moura) nos dois primeiros anos, já estreou cercada de certo ceticismo (até desse que vos escreve). Muito pelo fato da própria série ser (a priori) vendida e desenvolvida gravitando entorno de uma figura tão forte quanto o famoso narcotraficante colombiano.
Mas os criadores, acertadamente, acreditaram na ideia do “siga a droga” e a série virou uma narrativa sobre o que envolve esse ramificado movimento criminoso, e assim, ganhou importância para além de uma figura mítica. Assim, sai do Cartel de Medelín centralizado, e entra o Cartel de Cali. Talvez um único porém (irrelevante) dessa temporada esteja no sumiço injustificado do agente Murphy (Boyd Holbrook), até porque seu ofício anterior não era exatamente caçar Pablo Escobar, mas sim desmantelar a quadrilha que fazia entrar entorpecentes nos EUA.
Agora, a missão está nas mãos apenas do agente Javier Peña (Pedro Pascal, ótimo), que se debruça em focar, através do DEA (agência americana anti-drogas), nos quatro chefes que sustentam o Cartel: os irmãos Gilberto Rodriguez (Damián Alcázar) e Miguel Rodriguez (Francisco Denis), Pacho Herrera (Alberto Ammann) e Chepe Santacruz (Pepe Rapazote).
Gilberto é o líder, Miguel cuida do financeiro, Santacruz da atuação americana e Pacho das negociatas. O fortalecimento desse quadrilha, especialmente frente a uma Colômbia já manchada de sangue, aumenta o desafio das investigação, dificultada ainda mais por essa divisão de lideranças. O roteiro primeiro desenvolve esses matizes, sendo a de Miguel Rodriguez e Pacho Herrera os mais interessantes. Um pela quase ingenuidade com que lida com os meios ilícitos da qual ajuda a manter e o outro pelo imperativo de seu ofício mesmo diante de sua homossexualidade.
A trama vai se desenrolando com muita eficiência numa estrutura de intriga dramática que mantém a temperatura sempre lá em cima. Nenhum episódio é desperdiçado, e do meio para o fim, a série concentra sua ação na figura de Jorge Salcedo (Matias Varela), personagem de grande carga dramática e de tensão pelo que representou para o Cartel e para sua investigação em si. O penúltimo episódio é brilhante nesse contexto.
Pode-se dizer que Narcos se reinventou. Ou já era o que está sendo, apenas planejou bem seu desencadeamento. A radiografia dos cartéis de drogas dos anos 80/90 é por demais sedutora para uma dramaturgia, sobretudo pela perspectiva dos envolvidos nela. Narcos entende de perspectivas. Por isso é tão boa. E tão perturbadora.
Série: Narcos
Criadores: Chris Brancat, Carlo Bernard, Doug Miro
Elenco: Pedro Pascal, Damián Alcázar, Alberto Almmann
Gênero: Drama/Policial
País: EUA/Colômbia Temporada: 3
Data de estreia: 1 de setembro de 2017
Emissora: Netflix
Duração: 50 min
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