AcervoCríticasLançamentosLiteratura

O envolvente “O céu que nos oprime’, de Christine Leunens

Compartilhe &media=https://ambrosia.com.br/wp-content/uploads/2020/02/71H4jk4eXLL.jpg" rel="nofollow"> &title=O%20envolvente%20%E2%80%9CO%20c%C3%A9u%20que%20nos%20oprime%E2%80%99%2C%20de%20Christine%20Leunens" rel="nofollow"> &name=O%20envolvente%20%E2%80%9CO%20c%C3%A9u%20que%20nos%20oprime%E2%80%99%2C%20de%20Christine%20Leunens" rel="nofollow">

Fim da década de 1930, a Áustria era anexada pelo Reich alemão, onde Johannes Betzler e muitos outros meninos austríacos abraçam inocentemente o sonho nazista, entrando na Juventude Hitlerista e logo tenta convencer seus pais a fazer o que os nazistas pensam que todos deveriam fazer. Suas convicções são colocadas em cheque depois que o jovem descobre o segredo dos pais: eles escondem uma menina judia durante a ocupação de Viena.

Essa relação clandestina é a base do livro O Céu que nos Oprime, de Christine Leunens, publicado pela Bertrand Brasil. A história conquistou o diretor Taika Waititi, levando a adaptá-lo ao cinema na divertida sátira Jojo Rabbit, que concorre ao Oscar 2020 em seis categorias.

O livro segue a linha de um dramático romance histórico, como os consagrados O tatuador de Auschwitz, A menina que roubava livros e O menino do pijama listrado, que apresenta dramas durante a Segunda Guerra Mundial. O céu que nos oprime é belo e poderoso conseguindo ser mais ambicioso que esses outros romances, lembrando que Heather Morris, Markus Zusak e John Boyne, escritores das obras acima, também desenvolvem histórias fortes.

O susto inicial vira interesse, se tornando amor e evoluindo obsessão. Johannes vivia em Viena na Áustria nazificada, o adolescente atravessa os estágios de treinamento da organização hitlerista com certo entusiasmo e como o narrador da história apresenta seu olhar para os acontecimentos que ocorrerão.

Intenso e doloroso, comovente e engraçado, como também horrível são os momentos apresentados por Johannes, a autora é uma ótima contadora de histórias, e constrói uma batalha existencial sobre a ideologia de um jovem frente ao sentimento por alguém que a sociedade o faz odiar. A paixão apresentada envolve mentir, uma farsa das realidades e a construção de muros para se proteger, temas colaterais do livro, brilhantemente fluidos, e na medida que segue a narrativa somos apresentados às reações dos personagens ao clima político radicalmente alterado e ao fato de que o povo judeu e outras minorias são usadas como bode expiatório por Hitler para levar a Alemanha à guerra.

O cenário da Segunda Guerra Mundial está presente o suficiente para proporcionar um ambiente de angústia e opressão, mas permanece sutil e sinistro para permitir que o confronto entre os dois personagens prenda a atenção do leitor. O narrador é bem cruel e mesquinho, exemplo: ele cuida de sua família e sua casa com uma mão, mas mente e intimida com a outra. E ao longo da história se desenvolve perante a profundidade da jovem judia, que parece meio caricata, mas a maneira de deixá-la esperançosa, triste, grata e rebelde é bem feita. O autor faz um excelente trabalho ao descrever os sentimentos contraditórios de Johannes e por que acaba fazendo o que faz. Além disso, o exame profundo entre a paixão e a obsessão, a dependência e a indiferença em meio a guerra, conflitos religiosos, doença mental e a pobreza são aspectos importantes para a leitura recomendada desse livro.

Em O Céu que nos Oprime Leunens descreve o poder destrutivo da obsessão cega e como o mestre eventualmente se torna escravo. Frente ao sucesso da adaptação merece mais ainda sua leitura, uma obra emocionante que examina verdades e mentiras nos níveis político e pessoal, revelando os aspectos mais sombrios da alma humana. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos
CríticasTeatro

Dicas para sofrer em paz: uma comédia que pondera sobre o sofrimento no trabalho

Dicas para sofrer em paz, com atuação e idealização de Lulu Carvalho...

AnimeCríticasFilmes

Rosa de Versalles: Um Musical que Celebra Cinco Décadas de uma Obra Clássica

Em 2022, o clássico mangá Rosa de Versalles (Berusaiyu no Bara), criado...

LançamentosMúsica

Bull Control lança “Das Ruas Para as Ruas”

O novo álbum da Bull Control, intitulado “Das Ruas Para as Ruas”, é fruto...

CríticasFestivaisFilmes

Cloud, de Kiyoshi Kurosawa, abre a 14a edição do Olhar de Cinema

O filme de abertura da 14a edição do Festival Internacional Olhar de...

ClássicosCríticasFilmes

Boyhood e a Teoria dos Vínculos

Filmado ao longo de 12 anos, mostra a evolução de uma família...

Lançamentos

Pira Coletiva lança novo single “Redimunho”

A banda cearense Pira Coletiva, vencedora da 12ª edição do Laboratório de Música da...

LançamentosMúsica

Melissandra lança Mapará: um manifesto que canta a Amazônia

No dia 13 de junho, a cantora e performer paraense Melissandra lança...

LançamentosLiteratura

Myriam Scotti – contos que revelam a Amazônia além dos estereótipos  

A Amazônia é muito mais do que uma paisagem exuberante: é um...

LançamentosMúsica

Nívea Soares relança o clássico “Santo” em nova versão ao vivo

Escrita pela própria Nívea, “Santo” foi lançada originalmente em 2007 e também...

CríticasFilmes

Como Treinar Seu Dragão live-action copia, cola e repete a mágica

A chegada de “Como Treinar Seu Dragão” live-action, poucos dias depois de...