A mais recente série do Universo DC, O Pacificador (Peacemaker), um spin-off de O Esquadrão Suicida (The Suicide Squad, 2021), criada pelo mesmo diretor do filme James Gunn, tornou-se a mais pedida do mundo streaming de séries de televisão originais hoje, de acordo com os resultados da Parrot Analytics, que mede a demanda do público, interesse, engajamento ou popularidade geral de séries de TV.
A HBO Max ganha de suas concorrentes, embora esses dados sejam ilusórios, muito baseados em estimativas e torpedeados pela opacidade das plataformas quando se trata de compartilhar suas informações, mas representam uma reivindicação poética para Gunn.
Extraindo ouro
Gunn tem um compromisso de dirigir com irreverência e um olhar transversal ao gênero super-herói. Como O Esquadão Suicida falhou injustamente nas bilheterias, apesar das boas críticas, ele criou essa série spin-off +18 bem mais selvagem e sem preconceitos, baseada apenas em um dos membros sobreviventes do filme, e surpreendentemente, um dos vilões.
Reprisando seu papel como o anti-herói desbocado, nacionalista orgulhoso e disposto a fazer qualquer coisa para preservar a paz, John Cena mais uma vez veste o traje vermelho e azul, mas desta vez trazendo mais informações sobre o personagem, indo além dos quadrinhos. Através de sua figura, Gunn penetra na mente do que nos anos 1980 seria um herói que ninguém questionaria e que agora representa o reacionário, os piores clichês da ideologia militar e fascista da era Reagan concentrado em um homem que pensa que está sempre fazendo a coisa certa.
Gunn, que escreve todos os episódios e dirige cinco episódios, propõe um estilo visual que lembra muito o seu filme Super (2010) embora o leve para as partes mais abandonadas dos Estados Unidos, representando os desamparados e o ambiente frágil dos bairros, agravado após a crise de 2008. E é aqui que entramos em uma aventura de ação, cheia de personagens imprudentes, perigosos e estranhos; companheiros como uma águia americana e uma versão de O Vigilante, um psicopata letal mas muito hilário.
A fórmula de Gunn
Gunn volta à dinâmica de grupo, cujos membros não têm nada a ver uns com os outros, transformando em uma família, numa ode aos seus personagens e ao que há de diferente em um percurso que já é marca registrada de seus projetos cinematográficos como Guardiões da Galáxia (2014), O Esquadrão Suicida em si e seu primeiro projeto de heróis como roteirista, o reivindicado Os Especiais (The Specials, 2000).
Um elemento narrativo que permite a O Pacificador se afirme como uma série verdadeiramente adulta; com violência, sangue, nudez, uso de drogas, palavrões, “crianças” assassinadas, política atual, nudez e brigas com gorilas infectados que são divididos ao meio com uma motosserra. E qualquer coisa bizarra que o diretor possa imaginar está lá.
A música também desempenhou um papel muito importante no sucesso de O Pacificador. Além da ótima música da abertura, há punk, glam metal e heavy melódico que mais do que um acompanhamento musical é a definição espiritual do espírito lúdico da série. Confira via Spotify.
O Pacificador está à frente de outras séries que usam a malícia como premissa, pois não busca provocar por provocar, mas sim dividir a brincadeira com o espectador, fazendo com que nós participamos de suas brincadeiras. Bem escrito e com o humor que definiu o trabalho do autor desde seus primeiros trabalhos, aquele estilo diferenciado, meio pateta, mas embasado sublimarmente. Apoiado pelo orçamento de uma plataforma florescente em busca de sucesso que permite que um bandido se safe filmando suas ações truculentas como naqueles filmes dos brucutus dos anos 1980 e também cuspir na cara da versão mais domesticada do gênero super-herói.
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