Descendo por uma estrada do interior quando é atropelado por um motorista de caminhão do inferno, Jamie Dornan sofre um terrível acidente que lhe causa amnésia – fazendo-o esquecer toda aquela parafernália de bondage de Cinquenta Tons de Cinza.
Tirando a brincadeira com o autor, a divertida série de seis partes O Turista (The Tourist), criada e escrita por Harry e Jack Williams, o ator irlandês e ex-Hugo Boss e Calvin Klein interpreta um solitário louche que não consegue se lembrar quem é ele, o que está fazendo na Austrália ou por que parece ter “mata-me” estampado figurativamente em sua testa.
Repleto de reviravoltas chocantes, surpreendentes, engraçadas e brutais, O Turita se passa em um mundo povoado por personagens peculiares e enigmáticos e é uma comédia excêntrica marcada por ação de alto risco. Em seu coração, porém, está uma história de autodescoberta com uma bomba-relógio escondida: quando o homem começa a desvendar o mistério de quem ele era, ele também é forçado a questionar quem ele é agora… e rápido. Ele descobrirá os segredos de sua identidade antes que aqueles que tentam matá-lo o alcancem?
Análise
Ter um personagem principal que não consegue se lembrar de nada pode ser uma perspectiva incrivelmente libertadora e restritiva ao mesmo tempo. Raramente uma história tem a oportunidade de seguir alguém o mais próximo possível de uma lousa em branco. E a série segue esse caminho, mas ao longo de seus seis episódios acaba se estabelecendo em uma teia convencional de intrigas na TV.
O Turista começa tímido, apresentando Dornan como um viajante sem nome pelo interior australiano. Acordando em um hospital, o protagonista sem nome da minissérie percebe que não se lembra de quem é como foi seu acidente de carro ou o que está fazendo na Austrália. Também não sabemos muito mais, só o vimos ir ao banheiro em um posto de gasolina em ruínas e tentar uma fuga em uma sequência de ação que é uma clara homenagem a Encurralado, o primeiro filme de Steven Spielberg.
Assim inicia uma série entrelaçada de histórias pessoais e frustrações, com uma premissa hitchcockiana. que atrai quase todos que tentam ajudar esse cara. Com cenas em planos abertos em paisagens naturais, o uso do humor que transita entre o macabro e o absurdo, a violência irônica e uma esperada gama de personagens peculiares.
Eles incluem um mafioso grego (Alex Dimitriades) acompanhado por alguém que parece ser seu irmão (Alex Andreas), um detetive de polícia (Damon Herriman) obcecado em ligar para sua esposa todos os dias no mesmo horário, um cowboy interpretado por Ólafur Darri Ólafsson, e Helen, a policial inexperiente interpretada por Danielle Macdonald, que traz um tom amável à narrativa. Sentimento que é oferecido tão intensamente quanto odiamos o noivo dela (Greg Larsen). Além disso, os personagens podem não ter contado toda a verdade sobre eles.
A série lentamente vai descortinando a memória do protagonista enquanto obtém algumas respostas. Os roteiristas desenvolvem uma relação de apostas de vida ou morte e depois enxerta algumas histórias íntimas em pequena escala, como no caso da vida doméstica da xerife Helen.
E é um ponto que podemos notar na série: que qualquer pessoa que ajude O Turista a se recuperar do acidente traumático deve, portanto, ter seu próprio trauma necessário para estar em posição de ajudar.
Apesar das boas atuações coadjuvantes, é inevitável que a série dependa de Dornan. Como o enredo gira em torno dele sem se lembrar de nada, isso dá ao seu personagem sem nome uma sensação surpreendentemente vívida de vida interior. Dornan carrega o peso da ficção com naturalidade e humildade depois de já ter mostrado em Belfast que é muito mais do que ‘o de Cinquenta Tons’.
O Turista pode ser o melhor trabalho de Dorman até agora. Ele tira proveito de um roteiro que lhe permite alongar seus músculos metafóricos assim como os mais literais, por mais abundantes que sejam. Para um estranho misterioso, ele é impressionantemente bem construído sob sua barba espessa: implacável, confuso, legal, charmoso, robusto e aterrorizado, dependendo da situação. Quem quer que seja esse turista, será divertido descobrir.
Conclusão
O Turista é uma proposta envolvente que incentiva você a assistir em formato de maratona. Visualmente é atraente, gosta de brincar com reviravoltas e cliffhangers e faz isso de forma eficaz, sem medo de se perder no enredo e vale descobrir sobre o protagonista.
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