"Pedagogia do suprimido" usa a linguagem como sublevação para falar do supressão do sujeito

O poema está na imagem entre as palavras, no pensamento do leitor quando tenta categorizar versos. Mas versos são construções de desejo feitas por deslocamentos de sentidos, aquilo que o leitor repara ser uma caneta ao lado da mesa, esta pequena informação não será trabalhada desta forma no poema. Mas o real é de quem capturá-lo primeiro. Não com uma máquina de produzir poses ou fotos ou até imagens em movimento. Mas sim que tem o poder do capital, aquele que opera a ação dos outros que não tem ou o poder da barganha ou de capitalizar em cima de mão de obra.
Aqui parto de um noção que nosso corpo está dividido em lados; temos membros esquerdos e membros direitos e o hemisfério do cérebro também tem lados (direito/esquerdo) só que ele organiza lados diferentes ou posições dialéticas, não mantendo identidades binárias. Todo fluxo é ou deveria ser um processo de ramificação-cruzamento de corte.
Todo poema é uma ilha de edição. Temos cenas que podem se apresentar em estrofes. Cada nova estrofe seria um corte branco na fundura da página. Como também a cena é um pedaço da vida, um recorte ou gravação sobre o desenrolar dos acontecimentos. Os blocos da história tem seus movimentos contínuos de perpetuação de um sistema opressor que mastiga humanos se pensarmos que o mundo de hoje pressupõe processos civilizatórios.
O poeta Zeh Gustavo faz deste seu belo livro, Pedagogia do Suprimido (editora autografa)uma obra em aberto do apagamento do sujeito enquanto declarante desejoso. Zeh monta seus poemas sobre a égide da pedagogia do suprimido, do que existiu mas foi apagado; excluído de um sistema onde se baseia o embate de forças tanto capitalistas como numa briga psíquica – aquele que adoece, que se fragmenta em mil estilhaços. Aqui uso a ideia de enclave utilizado pelo poeta Marcelo Labes para nuclear uma força que tanto pode ser capitalista que opera atraves do macro que tem a apropriação da propriedade, e desno(rt)meia o exilado, o imigrante, o excluído quanto um coletivo, um grupo que erradique dentro de seus círculos-núcleos: a diferença.
O poeta parte além de um belo mosaico das relações afetivo-sociais, mas tece também sua veia radiográfica, através, de um uso constante da linguagem não normativa, aquela mesma, que estabelece signos para comunicação usual entre pessoas que caminham pela sociedade. Junto as imagens com uma veia surreal, ele desnomenclatura a língua criando novas junções, novas palavras que não categorizam ou não classificam a semântica significante do ponto de vista da norma culta. Frases do cotidiano como “eu piquei a mula” em que o sentido não abarca qualquer literalidade, onde a cena é forte porque figurativa, esta subversão do status operante é que o poeta vai animalizar.

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