Uma minissérie italiana, com paisagens sicilianas, com atores conhecidos na televisão e no teatro italiano, Salvatore Ficarra e Valentino Picone. Uma comédia bem divertida, com aquele humor ingênuo à la Os Trapalhões, criada, dirigida e protagonizada pela dupla de Palermo. Que Cilada! (Incastrati) acerta na aposta de misturar elementos da trama pastelão, com histórias da máfia, traições e sentimentos, compactando-os dentro de um roteiro que conta com inúmeras reviravoltas e momentos superengraçados.
Os seis episódios trazem a história de dois técnicos de TV, Salvo (Ficarra) e Valentino (Picone), que se envolvem com a máfia; após uma situação que desencadeará toda uma série de confusões. Em circunstâncias normais, qualquer um avisaria a polícia de que estava trabalhando e encontrou um homem assassinado. Mas o ponto crucial é que Salvo é obcecado por uma série fictícia de crimes reais, então é claro que, uma vez encontrado o cadáver, tenta aplicar elementos ficcionais a uma “situação da vida real”. ”
A simplicidade de Incastrati
São seis episódios de cerca de trinta minutos de duração, com clichês, situações e reviravoltas que até prendem o espectador. O contraste entre o garotão tímido ligado ainda ao cordão umbilical de sua mãe com a neurose do homem traído por sua esposa que se move como se estivesse em uma série de televisão policial funciona bem.
Mas os duetos entre Ficarra e Picone que recorrem a bordões recorrentes de duplo sentido e situações kafkianas; são enriquecidos com personagens secundários interessantes. O mafioso inútil (Tony Sperandeo) que somatiza sua incapacidade de contar mentiras com sua gagueira; o frei Armando (Gino Carista) que vende doces sem emissão de nota fiscal; o jornalista (Sergio Friscia) ansioso por poder contar uma nova temporada de guerra a máfia; o promotor (Leo Gullotta) que tenta infiltrar os dois desajeitados civis de acordo com um plano aparentemente infalível.Personagens que contrastam com as fortes figuras femininas: Esther (Anna Favella), a esposa apaixonada por ioga, a mãe superprotetora (Mary Cipolla) e Agata (Marianna Di Martino), a vice-comissária determinada a incriminar o chefe, um padre renomado na região (Domenico Centamore).
A comédia de Ficarra e Picone tem a leveza de uma comédia pastelão. A narrativa é simples, mas extremamente funcional para os propósitos da história que Ficarra e Picone querem propor ao espectador.
O roteiro é desenvolvido com uma sátira social que pisca para a comédia italiana clássica. Fácil de decifrar, mas não é chato, mesmo com a previsibilidade. Excluído de qualquer excesso de violência ou vulgaridade, o olhar cômico da dupla de Palermo é colorido com tons amargos, dando conta da miséria humana. A fotografia ajuda a realçar a narrativa com os esplêndidos locais sicilianos; tratando com leveza o caso policial.
O julgamento moral não é retórico, mas leva o espectador a se posicionar: a máfia está pronta para levantar a cabeça e não mais se subordinar à política. O monólogo final do chefão não é apenas o ponto de vista de um criminoso que se escondeu na sociedade civil, mas um alerta para não subestimar o fenômeno da máfia, ainda mais quando parece estar aparentemente reduzido. Pequenos compromissos e traições éticas são muitas vezes o terreno fértil para comportamentos abusivos e injustiças. E Ficarra e Picone propõem uma variante; a máfia como um estado de espírito.
O equilíbrio entre drama, comédia e o enredo com a mensagem moral é a chave para manter nossa atenção. Rápida, Que Cilada! é um conto satírico que oferece bons e aborda temas dignos de serem discutidos. Diverte e entretém à sua maneira.
Excelente série. Uma das melhores séries que já vi. Espero que tenha a nova temporada. É muito engraçado. Nota 10.