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Run: corra para ver a série de comédia e suspense da HBO

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Corra! Este imperativo gera uma descarga de adrenalina em qualquer um, seja no confuso namorado interpretado por Daniel Kaluuya em Corra! (2017) ou no casal protagonista da nova série da HBO, Run, que desafia a classificação em gêneros e tira da zona de conforto espectador e personagens.

Há muitos anos, um casal de namorados fez um pacto. Mesmo estando separados, se um dia, no futuro, um enviasse uma mensagem escrito “corra” para o outro e o outro respondesse também com “corra”, eles deixariam tudo o que estivessem fazendo, se encontrariam na Estação Central de Nova York e fariam uma viagem transcontinental de trem durante uma semana. No final da viagem, em Los Angeles, escolheriam se reatariam o romance ou seguiriam suas vidas.

Ruby (Merritt Wever) é uma mulher infeliz, sufocada pela rotina maçante de uma vida comum. Quando ela recebe a fatídica mensagem do ex-namorado Billy (Domhnall Gleeson), seu coração dispara, ela quase vacila, mas responde com “corra”. E aí começa a odisseia.

Billy é um palestrante motivacional – ou seria mais moderno dizer lifestyle coach? – que diz ter abandonado a carreira após um acidente vergonhoso no palco que lhe fez perceber como seu trabalho era insignificante. Mesmo assim, sua antiga assistente, Fiona (Archie Panjabi) não deixará por menos e tentará de todas as maneiras localizar Billy durante a fuga, pois está interessada no dinheiro que ele movimenta.

Ruby está sobrecarregada – prova disso é que o marido liga para ela, depois que ela desaparece, perguntando onde é a escola dos filhos. Nem desse “detalhe” ele sabia. O intuito da série não é discutir carga mental ou empoderamento, mas é interessante ver como Ruby muda ao conseguir momentos de liberdade. A sensação que fica é que Ruby pode mais, caso se liberte das convenções sociais. Embora isso não aconteça, talvez por questão de verossimilhança, nossa torcida é para Ruby literalmente “chutar o pau da barraca”.

Ruby e Billy não se veem há muitos anos, mas isso não significa que não pensaram um no outro durante esse tempo. Os flashbacks mostram que foi ela quem mais sentiu saudades, inclusive já tendo enviado “corra” em outra ocasião crucial sem, contudo, obter resposta. A química entre os dois atores é evidente mesmo em meio aos momentos frenéticos a bordo do trem, ao estilo dos melhores filmes de perseguição em espaços diminutos. E o que mais adiciona ao suspense é o fato de que quase nada é o que parece.

Uma das produtoras da série é Phoebe Waller-Bridge, em evidência desde a estreia da brilhante segunda temporada da série Fleabag em meados do ano passado. A série conquistou diversos prêmios e o talento de Phoebe foi reconhecido no mundo todo. Em Run, além de produzir, ela também faz uma participação em três episódios. Sua personagem, Laurel, é uma taxidermista bem-humorada e peculiar. Apesar de ter pouco tempo na tela, Phoebe rouba completamente a cena quando aparece.

A criadora da série é Vicky Jones, que dirigiu o monólogo teatral Fleabag, que deu origem à aclamada série. Grande amiga de Phoebe, Vicky conta que tem muitas ideias para uma nova temporada, mas nesse sentido eu discordo dela. Run é uma série de ciclo completo e, a meu ver, não necessita de uma segunda temporada – do mesmo modo que Big Little Lies não precisava de continuação.

Run foi produzida pelo mesmo estúdio de Sharp Objects, outra série da HBO que começou promissora, mas patinou um pouco. Depois de sete episódios – sendo seis deles dirigidos por mulheres! – podemos dizer que Run é uma série instigante, apesar do final abrupto que seria muito beneficiado por um epílogo, mostrando os personagens anos depois. Mesmo assim, a mistura de adrenalina, romance e uma pitada de comédia funcionou bem, e provou mais uma vez o Toque de Midas de Phoebe Waller-Bridge.

 

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