"Samantha!" é todo o deboche da cultura Pop brasileira dos anos 80

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Se no drama a produção nacional da Netflix ainda patina no artificialismo, então que seja pela comédia que ela encontre alguma relevância. E encontrou no hilário Samantha!, produção escrita e empreendida por Felipe Braga (a atriz Alice Braga além de atuar numa participação, também é uma das produtoras), que mergulha no nostálgico universo Pop dos anos 80 (e isso quer dizer, o âmbito televisivo do Brasil na época), permeando a história com referências, deboches e easter eggs divertidíssimos, e que só quem viveu a efervescência oitentista vai entender as sacadas que constroem a série.
Emanuelle Araújo tem o papel da sua vida, brilhando muito (impressionante como ela se apropria de sua Samantha) como uma ex-estrela mirim que ainda vive desse nome que não existe mais, tentando sobreviver e labutar no meio artístico. Ela viveu seus momentos de glória na década de 80 e agora encara o que for possível para tentar voltar à fama.
Anos após o fim da Turminha Plimplom, da qual ela fazia parte ao lado de Bolota (Maurício Xavier) e Tico (Rodrigo Pandolfo), ela agora é mãe de dois filhos e casada com o ex-jogador de futebol e ex-presidiário Dodói (Douglas, um poço de carisma) que acaba de sair da cadeia. E isso vira mais um motivo para que a protagonista busque mais alguns loiros de uma fama que não existe mais.

O roteiro é esperto nessa ambientação passada e contrastada num presente decadente, propício a muita piada com fartas doses de ironia. Talvez o grande êxito do texto esteja nesse deboche com com que olha para trás, fazendo tudo parecer tão absurdo quando nos parecia tão banal. A série tira proveito disso (a piada com Roberto Carlos é hilária).
Esse divertimento ágil todo talvez esconda alguns defeitos, sobretudo na interpretação das crianças da primeira fase (a Samantha criança é muito fraca) ou num certo artificialismo do roteiro. Mas Samantha! é feito de boas sacadas. E isso no plural e numa série de comédia, dentro do cardápio de conteúdo próprio nacional da Netflix, é promissor. Pelo menos para que a própria empresa possa ter mais juízo de valor com que produz em português.

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