Fofocas da aristocracia entre uma xícara de chá e outra. A série mais britânica de Nova York está de volta, para mais uma temporada de embates elegantes, paquera seguindo todos os protocolos e um mergulho tanto na vida dos novos-ricos quanto na de seus empregados. “A Idade Dourada” chega à segunda temporada mais madura e tão interessante quanto foi sua primeira parte. Em suma, um deleite para os olhos.
Encontramos a senhora Bertha Russell (Carrie Coon) ainda desejosa de um camarote na Academia de Ópera de Nova York – mesmo ela não gostando tanto assim de ópera. Seu marido, o senhor George Russell (Morgan Spector), está em pé de guerra com os sindicatos. A filha do casal, Gladys (Taissa Farmiga), acaba de receber um pedido de casamento de Oscar van Rhjin (Blake Ritson), e o filho Larry (Harry Richardson) está envolvido com sua patroa, uma mulher mais velha. Para piorar, uma ex-criada pessoal da senhora Russell se casou com um homem influente, e está de volta como um fantasma para assombrá-la.
Do outro lado da rua, na residência dos Brook / Van Rhjin, Marian (Louisa Jacobson) escandaliza a tia Agnes (Christine Baranski) ao aceitar uma posição como professora de aquarela em uma escola só para meninas. Enquanto isso, Oscar fez o pedido a Gladys não por amor, mas pela necessidade de esconder sua homossexualidade. No campo dos negócios, ele se envolve com as maquinações de Maud Beaton (Nichole Brydon Bloom) e coloca o patrimônio da família em risco. Romances se delineiam no horizonte para Marian e a tia Ada (Cynthia Nixon). Enquanto Marian vira pretendente de um primo viúvo, a reclusa porém romântica tia Ada se apaixona pelo novo pároco da igreja.
Recuperando-se de uma tragédia familiar, Peggy Scott (Denée Benton) quer ocupar a cabeça e por isso se afasta de sua família no Brooklyn e volta às velhas atividades: ao trabalho freelance para um jornal e ao seu posto como secretária da tia Agnes, o que desperta o ciúme da senhora Armstrong (Debra Monk).
Novamente, os dramas dos ricos se fundem com os de seus empregados. É particularmente interessante a subtrama de um camareiro, o Sr Watson (Michael Cerveris), cuja filha se casou com um homem rico, que agora quer que o sogro menos afluente vá para a Costa Leste, bem longe deles. Outro criado com uma história interessante é Jack (Ben Ahlers), que se põe a consertar um despertador e a partir daí descobre sua verve de inventor.
Para Peggy, surge o tópico de escolas integradas e não mais segregadas, ou seja, escolas que aceitam alunos negros e brancos. Só com essa integração o Conselho de Educação permitirá que as escolas públicas continuem existindo, e Peggy faz um esforço através do jornal para a causa.
Em uma discussão com o marido no quarto episódio, Bertha diz que “cuida de todos, mas quem cuida de mim?” (O original é: “I cover all your backs, who covers mine?”). De fato, Bertha faz tudo, incluindo entreter um autêntico duque inglês em sua casa de campo e praticamente implorar para que ele esteja presente na inauguração de uma nova casa de ópera, a Metropolitan. Estes esforços fazem de Bertha uma personagem complexa e cheia de camadas, capaz de tudo para conseguir seus objetivos.
A Idade Dourada foi uma época de muitas celebrações, para além das várias festas dadas a cada episódio. Se na primeira temporada o destaque foi para uma exibição pública das maravilhas de Thomas Edison, nesta segunda a festança que para a cidade é a inauguração da novíssima Ponte do Brooklyn. O que mais surpreende na maravilha arquitetônica é saber que o projeto foi capitaneado por uma mulher, Emily Roebling (Liz Wisan). Trata-se de uma história real, mas que soa como ficção: Emily Warren Roebling realmente capitaneou a construção da Ponte do Brooklyn entre 1869 e 1883, substituindo seu marido, que havia adoecido. O senhor Roebling acompanhava a construção de sua casa com um telescópio!
Alguns episódios são assinados pelo diretor de fotografia Lula Carvalho. O nome não engana: ele é brasileiro! Depois de trabalhar em filmes como “Tropa de Elite” e “Bingo, o Rei das Manhãs” e também adquirido experiência em videoclipes de Anitta e Ludmilla, Carvalho vem acumulando sucessos no currículo em Hollywood, como episódios da série “Narcos” e a direção de fotografia de blockbusters com as Tartarugas Ninja.
É muito interessante que as personagens principais sejam mulheres, sendo que a série é ambientada num tempo em que elas sequer podiam votar. Os triunfos e as batalhas das protagonistas existem, portanto, mais na esfera privada que na pública. Por isso é tão marcante quando, no último episódio da temporada, Marian diz querer “fazer a diferença no mundo antes de criar raízes”. Seu “fazer a diferença” envolve um emprego módico de professora de artes, mas este é um dos poucos domínios em que as mulheres podiam se aventurar na época.
A Idade Dourada não é o tipo de série na qual você fica pensando a semana toda, à espera de um novo episódio: ele simplesmente chega, no domingo à noite, e te pega de surpresa. É, como eu defini na crítica da primeira temporada, um novelão, e essa definição não é demérito algum.
Tendo terminado com tantos cliffhangers – os famosos “ganchos” de final de temporada -, A Idade Dourada clama para que venha uma terceira temporada, e que venha logo, para satisfazer a sede dos fãs por mais boas tramas de época.
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