No Natal tipicamente brasileiro, tem rabanada e pavê – ou seria para comer? Tem arroz com passas, salpicão às vezes com passas e panetone obrigatoriamente com passas. Tem amigo secreto que de vez em quando dá desgosto. Tem reunião de família de sangue e família de escolha. O Natal brasileiro é diferente de todas as tradições que vemos na mídia advinda de Hollywood. Por isso, é mister que sejam feitos produtos audiovisuais para retratar as exclusividades das nossas celebrações. E eles vêm pipocando nos últimos anos: já tivemos os filmes para streaming “Tudo Bem no Natal que Vem” em 2020 e “Ritmo de Natal” em 2023. Agora chega uma série, a primeira da produtora superelogiada Filmes de Plástico, para contar uma história natalina que vai deixar nosso coração quentinho – e também arrancar risos e quiçá uma lágrima.
O Natal dos Silva será diferente este ano. Primeiro porque são as primeiras festividades sem a presença da matriarca, Dona Zelina. Segundo porque Luciano (Robert Frank) decide levar sua nova namorada Lin (Aisha Brunno) para a família conhecer. A mãe de Luciano, Bel (Rejane Faria), está lutando para manter as tradições, da receita de família para o peru até a árvore de Natal montada lá fora no pé de manga.
Quem chega para a celebração depois de 14 anos nos Estados Unidos é o irmão de criação de Bel, Jesinho (Ítalo Laureano). Logo chegam os muitos outros irmãos de Bel, entre eles Lúcia (Carlandréia Ribeiro), Júlio (Renato Novaes), e Geraldo (Carlos Francisco).

Lin é uma mulher trans, mas esse não é o maior problema. Bel tem falas preconceituosas quando está a sós com Luciano, mas sua bronca mesmo é o fato de o filho ter trazido alguém para o Natal sem avisar. O molho azeda ainda mais quando Lúcia escolhe Lin para ajudá-la a preparar o peru. E para piorar o irmão de Luciano tenta ser simpático, mas acaba sendo transfóbico. Lin diz, logo no começo do primeiro episódio, que sua própria família não merece saber que ela está bem. Mas será que a família de Luciano merece alguém como ela?
Os desentendimentos fraternos vão além dos embates verbais entre Bel e Lúcia. Estão nos pequenos detalhes, como uma arrumar a mesa de um jeito para, ao virar as costas, a outra rearranjar as louças. As irmãs digladiam o tempo todo, seja pelo preparo do peru ou pela casa que é herança da mãe. Não haveria uma trégua sequer no Natal. Mas espere até chegar a hora de revelar o amigo oculto: é aí que o climão generalizado se instala.

O principal lugar onde se desenrola a trama é no quintal dos Silva. Para acompanhar os núcleos narrativos, a câmera passeia com destreza e fluidez pelo ambiente. Narrativamente, se abrem diversas subtramas que são lindamente arrematadas no episódio final, o mais longo de todos. Para o criador Gabriel Martins, “cada pessoa ali é um mundo em si”.
Essa série que, como apontado nos créditos finais, gerou mais de 700 empregos diretos ou indiretos, é a estreia da produtora Filmes de Plástico no formato televisivo. A vontade já expressa por Gabriel é que haja mais temporadas, cada uma focada numa data festiva diferente.
“Família é tudo igual, mas a nossa é mais legal”: frase que vi num azulejo decorativo certa vez. Em reuniões de família, o ambiente e as condições são perfeitas para gerar situações impactantes, conflituosas ou apenas curiosas. No Natal, com famílias reunidas por vezes a contragosto, o caldeirão de emoções só precisa de um átomo para entrar em ebulição, como acontece com os Silva. A tia Vera ressalta que, numa família, os barraqueiros precisam dos calados e vice-versa. É, como outra tia de Luciano define um presente: “tem uma pintura bonita debaixo dessa bagunça.” A reunião de família é a bela bagunça das festas de fim de ano.

O Natal pode ser uma época de alegria ou de melancolia – ou talvez as duas juntas. Alegria pela festa, pela troca de presentes, pelo banquete, pela presença de pessoas queridas num mesmo lugar. Melancolia quando falta alguém à mesa em relação aos anos anteriores. Essa melancolia não costuma vir estampada nas fotos, pois em frente a uma câmera é hábito do ser humano fazer pose e sorrir. Com os nervos à flor da pele, tudo pode acontecer: talvez seja esta a magia do Natal.
Horários de exibição de “O Natal dos Silva”:
A partir de Quinta, 27/11, às 21h30 (1 episódio por semana) no Canal Brasil.
Alternativos: Sextas, às 22h30; sábados, às 23h; domingos, às 19h; quartas, às 20h30.
Exibição de 1 episódio por semana no Globoplay.
Maratonas:
25/12, a partir das 19h (maratona com os 4 primeiros episódios, fechando com o lançamento do quinto)
27/12, a partir das 20h30
28/12, a partir das 16h30
02/01/2026, a partir das 23h;









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