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Shotaro IshinoMori e Kamen Rider

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Passaram mais de três décadas de publicação de mangás em nosso país para que os leitores possam finalmente desfrutar de um dos grandes títulos que mais marcaram a cultura televisiva japonesa. Kamen Rider de Shotaro IshinoMori, significa muito para o gênero tokusatsu em nosso cenário editorial.

Kamen Rider foi o título pioneiro de um gênero em que os protagonistas se transformaram em heróis para lutar contra o mal. A influência deste mangá é tamanha que sua pegada atingiu nossos dias em títulos tão díspares como Dragon Ball, Jaspion ou Sailor Moon. Sem Kamen Rider, como podemos entender Son Gohan transformado em um Grande Saiyaman, as incríveis transformações de Spielvan, ou Serena Tsukino se transformar em uma Guerreira da Lua após gritar “Pelo poder do prisma lunar!”? O gênero tokusatsu e suas poses impossíveis deixaram uma marca cultural profunda na mente coletiva de um país inteiro.

Kamen Rider foi publicado originalmente em 1972 em quatro volumes no Japão, mas a versão da Editora NewPOP foi condensada e terá apenas três volumes. A edição chega até nós com a celebração dos 50 anos desde a publicação deste título, com uma qualidade do trabalho, tanto no formato, tipo de papel e tradução de Júnior Fonseca

Shotaro e sua criação

Originalmente, o mangá foi uma adaptação da série de televisão. A historia começa com um jovem sequestrado pela malvada organização Shocker, que pretende conquistar o mundo. Para levar conseguir efetivar seus planos perversos, sequestram os jovens mais brilhantes para transformá-los em ciborgues controláveis e insensíveis. A última vítima é o talentoso Takeshi Hongo.

Ao acordar numa sala de cirurgia, Hongo percebe que seu corpo está sendo manipulado e transformado, e relembra o momento de seu sequestro. Bem no momento culminante, quando a mente de Takeshi está prestes a ser dominada, um curto-circuito ocorre permitindo que o jovem Takeshi escape. Levado pela sede de justiça, Hongo decide lutar contra a Shocker, se transformando no misterioso e poderoso Kamen Rider.

Bem antes de Hokusai, o mangaká Shotaro Ishinomori (1938~1998), rei do mangá nos anos 1970, já era famoso como artista de, e com Kamen Rider era seu primeiro trabalho feito em conjunto com o Tohru Hirayama, produtor da Toei. O mangá e a série de TV representam duas visões distintas. Ishinomori não só colocou toda sua genialidade nesse personagem, mas também satirizou o cenário político da época;

Traduzido literalmente como “O motociclista mascarado”, Kamen Rider foi então concebido como um personagem de televisão, mas antes que a série de TV começasse, Ishinomori começou a serializar a versão em mangá desse personagem. Alguns consideram este mangá como “o trabalho original de Kamen Rider”; mas não é bem assim: primeiro vieram os designs e abordagens para a série de televisão live-action e depois o mangá (embora finalmente o mangá tenha sido publicado antes, daí a confusão).

Análise

Podemos observar nesse mangá os novos valores da sociedade japonesa do pós-guerra, surgidos após a derrota militar do país na Segunda Guerra Mundial e que começaram a se espalhar após a publicação de Astro Boy (1952-1968). Os novos heróis do manga vão continuar a lutar pelo bem comum mas desta vez esta luta será influenciada pelos valores da igualdade, justiça e altruísmo, sem dúvida um reflexo claro da Declaração dos Direitos Humanos (1947). Esses valores serão a base de um novo arquétipo de heróis cujo estandarte será a luta pela paz e a justiça social, como nas obras de Leiji Matsumoto ou de Gô Nagai.

No mangá do Kamen Rider, a paz mundial é ameaçada por um conglomerado corporativo que tenta governar o mundo em seu próprio benefício, e o herói começa uma jornada, um caminho do herói, onde o sacrifício pessoal está na ordem do dia.

Hongo acaba se tornando um mero instrumento de sua própria vontade para que os valores em que acredita sejam respeitados e a defesa dos fracos prevaleça contra os fortes. Uma grande mudança em comparação com trinta anos antes.

Enfim, estamos diante de um mangá de ação acelerada, onde tudo tudo acontece muito rapidamente. Exemplo, são só 12 páginas entre o momento em que o personagem Takeshi Hongō é apresentado a nós, ser sequestrado e tornam-lo um ciborgue. O ritmo é muito rápido, entretanto a narrativa segue o estilo dos anos 1970, simples e ingênuo, embora tenha seu charme, já que o autor em nada complica em criar bases sólidas. Seu traço lembra seu mestre, Osamu Tezuka, mais sombrio em alguns momento, junto com a ação e o ritmo da narrativa temos uma demonstração fantástica de como fazer bem as coisas na linguagem dos quadrinhos de ação: velocidade.

O valor desses três exemplares que a editora New Pop vai além do histórico, mas também pelo contexto da época e pelo entretenimento de ver os esforços do jovem Kamen Rider contra a Shocke.

Nota: Bom – 3 de 5 estrelas

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