O Tears for Fears — dupla formada por Roland Orzabal e Curt Smith — nunca foi de lançar muitos álbuns, e demorou quase 18 anos para produzir o álbum “The Tipping Point”.
Será que valeu a pena esperar? A resposta é um retumbante sim!
Tristezas e otimismo embalados em um pop de qualidade
Lançado na última sexta-feira (25), “The Tipping Point” confirma a boa produção musical deste início de 2022 (confira a crítica de “Earthling”, de Eddie Vedder).
O novo álbum traz elementos conhecidos dos fãs da banda e sons que podem surpreender.
“The Tipping Point” tem cara de disco de sucesso, com várias canções que são candidatas a se tornarem sucessos radiofônicos e preferidas do público nos shows.
Mas, qual a motivação para o novo disco?
— Chegamos a um ponto, talvez sete ou oito anos atrás, onde estávamos tocando as mesmas canções o tempo todo — não exatamente as mesmas, mas nós não tínhamos músicas novas. Isso estava ficando um pouco chato e a única maneira de tornar as coisas interessantes novamente era ter novas canções. Foi quando começamos a discutir a possibilidade de fazermos um novo álbum — contou Curt ao site superdeluxeedition.com.
Para não sair da sua playlist
“The Tipping Point” (“Ponto de Virada”, em tradução livre) é uma coleção impressionante de texturas musicais, faro pop, vocais harmoniosos, alguns temas tristes, outros alegres e uma produção de primeira.
Já na faixa de abertura, a balada acústica “No Small Thing”, o ouvinte encontra influências celtas e uma letra que fala de perdas de pessoas que fazem parte da nossa história como seres humanos.
Apesar de menos “comum”, “No Small Thing” deixa a impressão de que o Tears for Fears está em forma.
A certeza de que o disco vai decolar chega com a faixa título. O pop da canção “The Tipping Point” é irresistível. Está no nível das melhores canções produzidas pelo duo.
Por falar em produção, a participação de Sacha Skarbek (James Blunt, Adele e Lana Del Rey) parece que fez bem ao grupo e ao álbum.
O álbum vai passeando pelos temas mais dançantes (“Break the Man”), rocks (“Master Plan”) e até pelo resgate de uma canção (“Stay”) lançada na coletânea “Rule the World: The Greatest Hits”, de 2017. Ano que, aliás, foi um ponto de virada para a banda.
Eles lançaram essa coletânea, engavetaram um disco pronto (que continua inédito até hoje) e ainda sofreram com a perda da primeira esposa de Orzabal, Caroline, que virou tema de algumas letras do novo disco.
Voltando para “Stay”, a balada fala sobre a possibilidade de Curt Smith de abandonar a banda mais uma vez e sua decisão em ficar.
No fim das contas, “The Tipping Point” soa moderno, inspirado e cheio de contradições em relação a vida e nossos (deles) dilemas.
Não se sabe se esse será o álbum de despedida do Tears for Fears (tomara que não).
Certamente eles não vão poder esperar outros 17 anos para produzir novas canções.
— Embora tenhamos a reputação de sermos uns cabeças-duras, nós não somos*. Só porque, eventualmente, nós chegamos a algum ponto onde nós não trabalhamos juntos ou decidimos não trabalhar juntos, não significa que não escutamos um ao outro e isso é bom!
*Nota do autor: Difícil de acreditar.
Uma história conturbada
“Juntos” desde o início da década de 1980, Orzabal e Smith estouraram com os álbuns “The Hurting” (1983), “Songs from the Big Chair” (1985) e “The Seeds of Love” (1989), emplacando uma série de músicas de sucesso.
Depois disso, Smith deixou o grupo e Orzabal ainda lançou dois trabalhos sob o nome de Tears for Fears — “Elemental” (1993) e “Raoul and the Kings of Spain” (1995) — que, sejamos sinceros, não estavam à altura dos trabalhos anteriores.
Em 2000, os velhos companheiros voltaram a se encontrar — Smith morava nos Estados Unidos e Orzabal continuava na Inglaterra — e decidiram retomar a parceria musical.
O resultado foi o álbum “Everybody Loves a Happy Ending” (2004) que, apesar das boas canções, não agradou muito aos músicos, principalmente Smith.
“The Tipping Point”: um disco e alguns dramas
Chegamos a “The Tipping Point” que, assim como a maioria dos projetos do Tears for Fears teve uma série de dramas e contratempos.
Originalmente ele seria chamado “Renewing Our Vows”— “Renovando Nossos Votos (de casamento)”, em mais uma tradução livre — e demorou quase 10 anos para ser completado.
Antes do projeto acontecer, a banda se envolveu com artistas e produtores mais jovens, na esperança de produzirem um “som mais moderno” e que pudesse falar com uma audiência mais jovem.
No fim, essa ideia, que saiu da cabeça do então empresário da banda, não rendeu. Curt e Roland detestaram o resultado, demitiram o empresário e engavetaram as canções.
Além disso, como já citado anteriormente, houve a morte da primeira esposa de Orzabal, um novo casamento e, nesse meio tempo, turnês e debandadas (temporárias) dos dois parceiros.
As coisas só tomaram rumo quando os dois se reuniram e compuseram “No Small Thing”.
— Nós nos reunimos em 2020, pouco antes da pandemia tomar conta do mundo. Sentamos na casa do Curt com nossos violões, pela primeira vez desde que tínhamos uns 18 anos, e o Curt veio com esse riff que acabou se transformando em “No Small Thing”. Eu não sei de onde ele (riff) surgiu, mas voltei para a Inglaterra e trabalhei mais na canção. Foi então que minha mulher me incentivou a mostrar o resultado para ele, que adorou. Então, no fim daquele ano, voltamos a nos reunir e terminamos a música — contou Orzabal ao site XS Noize.
Depois disso, o duo recrutou os produtores Charlton Pettus, Florian Reutters e Sacha Skarbek, e colocou a mão na massa.
Mesmo assim, o parto foi longo.
Ainda bem que a espera valeu. “The Tipping Point” é mais um candidato a estar na lista dos melhores álbuns de 2022.
O resultado me surpreendeu. O disco ficou muito equilibrado e fácil de degustar, sem ser clichê. A produção está impecável. Pra quem aprecia música em bons fones de ouvido para ouvir os detalhes, este é um deleite. As vozes estão ótimas, o instrumental muito bem executado e é possível achar referências aos sucessos antigos da banda. Nota 5/5.
Uma grata surpresa realmente, Danilo
Excelente resgate da essência do Tears for Fears. Álbum feito para os verdadeiros fãs da banda, com músicas fortes e suavemente acolhedoras. Nota 1.000!!
Álbum sensacional. Meu destaque vai para as canções “No Small Thing”, “Master Plan” e “Rivers of Mercy”. Qualidade impecável e músicas que tocam a alma. Um retorno supreendente do duo. Espero que The Tipping Point tenha convencido Orzabal e Smith a seguirem produzindo e lançando músicas por muito mais tempo e com intervalos menores entre uma obra e outra.