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Zoo no Inverno, de Jiro Taniguchi – o célebre mangaká em sua forma mais pura

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Sinopse

Quioto, 1966. O jovem Hamaguchi trabalha em uma empresa do setor têxtil, mas seu grande sonho é trabalhar como artista gráfico. Enquanto tenta descobrir como atingir seu objetivo ele recebe uma indesejável tarefa: vigiar a filha do seu patrão. Tudo corria bem, na medida do possível, até que um acontecimento inesperado o obriga a tomar uma fatídica decisão e ele se muda para Tóquio. Na capital japonesa, um antigo amigo dos tempos de escola leva Hamaguchi ao estúdio de um famoso mangaká que estava precisando de um novo assistente. E assim, quase que por acidente, ele entra para o concorrido mundo dos mangás. O próximo passo, entretanto, é o mais difícil de todos: publicar um mangá autoral.

Edição do selo Tsuru, da Devir, com 256 páginas, capa cartão com sobrecapa

Análise

Não é incomum no Japão encontrar obras autobiográficas em que os protagonistas, ao invés de serem uma representação fiel da realidade, aparecem sob um alter ego que distancia o criador da obra de seu conteúdo. É comum encontrar narrativas supostamente fictícias; mas que invocam claramente a vida do autor. E em Zoo no Inverno (Fuyu no Doubutsuen), Jiro Taniguchi (1947-2017) temos um exemplo desse trabalho intimista.

Capa japonesa

Zoo no Inverno é um volume semibiográfico de Jiro Taniguchi, lançado no Japão em  2008 pela editora Shogakukan. Neste trabalho conhecemos os primórdios do mangaka nos anos 60; como ele emigrou muito jovem de sua terra natal Tottori para Kyoto, para começar a trabalhar em uma empresa têxtil, período em que passava o tempo livre indo ao zoológico da cidade, desenhando animais. Possivelmente nessa época o amor do autor pela natureza começou a tomar forma, um amor que mais tarde se refletiu em suas obras.

Naquela época conhecemos um Taniguchi que ainda não sabia para onde direcionar sua vida, e que só queria se dedicar ao trabalho na empresa têxtil, sendo o mundo dos mangás algo distante. Aquele Taniguchi era ingênuo e sonhador, mas aos poucos foi aprendendo o que era a vida, principalmente quando estava tão longe de casa e de seus entes queridos.

A influência hippie, ou americana em geral, está mais do que presente neste trabalho e na cultura japonesa urbana. A obra de Taniguchi, ao contrário de outras autobiografias como Uma vida errante de Yoshihiro Tatsumi, centrada toda sua narrativa no mundo do mangá ou a magnífica Autobiografia de Shigeru Mizuki, um retrato de toda uma vida, nos conta os primeiros anos da vida de Hamaguchi, desde o momento que sai de Quioto até o término de seu primeiro trabalho.

Um novo olhar

A segunda parte é possivelmente a mais interessante de Zoo no inverno, pois é quando Taniguchi, ou como é rebatizado na história “Hamaguchi”, viaja para Tóquio seguindo o conselho de um velho amigo do instituto que já morou na capital japonesa. Aí, graças a ele, conhece um mestre mangaká que está à procura de um assistente, e que aceita Hamaguchi, entrando definitivamente no mundo do mangá.

Nesta parte é onde Hamaguchi, ou Taniguchi, descobre que o trabalho do mangaká não é algo tão simples, são horas e horas até tarde e trabalhando duro. Durante este tempo, a pessoa que será Hamaguchi no futuro é forjada; conhece outros ilustradores, seus primeiros contatos com a noite da capital, e possivelmente seu primeiro amor sério, que serão essenciais para dar o importante salto de ser um simples assistente para um mangaká profissional.

É interessante, não só conhecer em primeira mão os primórdios de um dos mais importantes mangakas da atualidade; mas também como um autor de mangá trabalha, com seus assistentes e também o papel que um editor de uma revista desempenha. Assim como as sessões para cumprir os prazos e por último, é muito cativante como Taniguchi se lança no final para fazer seu primeiro trabalho solo, por que e como ele se motiva para dar esse salto.

Um estilo inconfundível

O estilo de Taniguchi é único e inconfundível. Um desenho que agrada aos olhos;  simples mas não simplista. Seu traço conquista; desde as primeiras páginas ele pega você, deixando-o cativo capítulo após capítulo em sua história. Talvez o único aspecto contrário que costuma ser colocado para seu estilo seja a fisionomia muito parecida com seus personagens (os protagonistas sempre se parecem muito), mas em Zoo no Inverno, não é tão marcado como em outros trabalhos. O que é surpreendente são os cenários de Taniguchi, tão complexos e detalhados, atingindo um realismo impressionante.

Uma obra indispensável para quem adora manga. Conhecer em primeira mão os primórdios de um gênio como Jiro Taniguchi é uma delícia pelo seu trabalho; mas é também descobrir como viviam os mangakas, suas árduas sessões de trabalho quando se aproximavam das datas de entrega, seus momentos de lazer, ou como foi obra de um estudo formado pelo autor e seus assistentes. Sem dúvida, um ótimo lançamento da Devir; se reunindo a outros nomes em seu selo Tsuru. Recomendamos a leitura

Nota: Excelente – 4 de 5 estrelas

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Por
Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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