A escritora e empreendedora Camila Veloso apresenta seu mais recente trabalho, “O Diário de Amélia”, uma narrativa voltada ao público juvenil que acompanha os desafios de uma jovem saindo da adolescência e enfrentando dilemas familiares, sociais e emocionais. A obra explora de forma sensível questões como a busca por liberdade, o enfrentamento de ambientes opressivos e a superação de traumas, oferecendo uma leitura ao mesmo tempo divertida e reflexiva.
Além de escritora, Camila é também fundadora da Aldeia Literária, uma curso que utiliza a metodologia Cohort Learning Method para formar novos autores. Natural de São Paulo, a autora iniciou sua trajetória literária aos 11 anos e, desde então, se destacou no mercado independente. A ousadia para liderar um movimento inovador está assentada na trajetória acadêmica e bagagem de Camila, que é formada em Produção Editorial pela Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, passando por áreas de comunicação e marketing em agências, startups e multinacionais. Também estudou criatividade e tutoria educativa na Universidad Autónoma de Tlaxcala, no México.
Antes de “O Diário de Amélia”, Camila publicou “Traumas de uma Grande Gostosa”, “Cartas ao Sol” e “Encontrei um Pote com Tempo Dentro”. Todos voltados para o público juvenil, publicados de forma independente e disponíveis para compra online no site Amazon. Na entrevista abaixo, conversamos com a escritora sobre o processo de escrita do seu novo livro e como ele pode ser uma rota de fuga para adolescentes que vivem ambientes tóxicos e opressores.
Se você pudesse resumir os temas centrais de “O Diário de Amélia”, quais seriam? Por que escolher esses temas?
Acredito que o tema central seja o empoderamento feminino. No livro, e eu falo isso na nota da autora, secretamente ensino as leitoras a pedir ajuda. É por isso que a personagem principal ouve sobre como tomar vacina de HPV no SUS, como abrir um MEI, e como sair de casa através das universidades públicas.
O empoderamento do livro vem da exposição do cenário emocional dentro de lares ultra conservadores (a personagem principal nasceu numa seita), e na apresentação de rotas para sair desse tipo de ambiente.
O que motivou a escrita do livro? Como foi o processo de escrita? Quanto tempo levou para escrever o livro?
Bom, eu nasci num lar ultraconservador e sendo artista e mulher sempre recebi uma dose extra de repressão. Era um instinto natural me rebelar e trouxe muito disso para a minha arte. Levei dois anos para encontrar o tom certo para o livro e, também, para navegar entre os meus traumas relacionados ao cenário emocional de um lar ultraconservador. Eu não queria que o livro fosse sobre ódio, queria que fosse sobre acolhimento e rota de fuga.
Para vocês terem uma ideia, nunca fui incentivada a ir num ginecologista com regularidade, pois me diziam que nada poderia acontecer se eu fosse virgem, como se tudo fosse sobre IST e endometriose, ovários policísticos e outras doenças não existissem. Na igreja em que nasci, existe um movimento antivax contra a vacina de HPV, pois eles acreditam que a castidade e o casamento são a única proteção que mulheres precisam contra o câncer de colo de útero. Nunca li um livro em que a personagem passava por isso, e achei que realmente era o meu lugar de fala.
Em sua análise, quais as principais mensagens que podem ser transmitidas pelo livro?
Você não está sozinha, aqui está um mapa. Isso misturado com romance adolescente, claro.
Por que escolher o gênero adotado? Desde quando escreve dentro do gênero?
Olha, escrever romances foi uma surpresa, nunca me imaginei aqui. Sempre achei que escreveria fantasia, mas, parece que algumas coisas precisam ser ditas de forma clara.
Eu poderia escrever sobre uma menina que nasceu num clã de lobisomens velhos que amam sangue humano porque é tradição, mas achei que precisava ser mais óbvia.
Fora que o brasileiro (na minha percepção) ama as produções nacionais de romance. Tem uma aderência melhor que a fantasia. Escrevo romances desde sempre, mas a primeira publicação veio em 2021, com o “Traumas de uma Grande Gostosa”. O Diário de Amélia é meu terceiro livro no gênero.
Quais são as suas principais influências artísticas e literárias? Quais influenciaram diretamente a obra?
Thalita Rebouças, Ariano Suassuna, Fernando Veríssimo com certeza me influenciaram na obra porque eu queria escrever com leveza e bom humor, assim como eles fazem. Queria que a história fosse divertida, apesar do tema pesado.
Como você definiria seu estilo de escrita? Que tipo de estrutura você adotou ao escrever a obra?
Meu estilo nasceu do ritmo da poesia. Tem uma aula de escrita criativa do escritor Marcelino Freire em que ele diz que “o seu lugar no mundo é o seu lugar na página”. Eu comecei escrevendo poesias quando criança, mas na adolescência achei que seria muita pretensão minha me denominar como poeta. Resgatei o ritmo na minha prosa em 2021, com o “Traumas de uma Grande Gostosa”, e hoje meus textos são em prosa poética.
Depois de publicar este livro, conheci o trabalho da Aline Bei, e me senti acolhida. Ela também trabalha com uma prosa mais ritmada.
Você escreve desde quando? Como começou a escrever?
Escrevo desde os 11 anos de idade.Comecei a escrever por dois motivos: problemas de saúde e privacidade. Quando você nasce num lar ultraconservador todos os seus talentos precisam servir à sua comunidade religiosa. Cantar, falar, tocar instrumentos, negociar, cuidar… Escrever me dava privacidade porque as pessoas tinham preguiça de ler (descobri isso cedo) e eu podia escrever sobre o que eu quisesse.
Além disso, com onze anos fui diagnosticada com uma forma grave de escoliose, que resultaria em 26 pinos e duas hastes de titânio parafusadas na minha coluna e vários anos de fisioterapia. A literatura foi minha fuga, minha casa quando eu não sabia como suportar a realidade, e decidi que eu adoraria criar mais daqueles lugares seguros para outras pessoas como eu.
Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária de escrita?
Descansar e ler são meus rituais (risos, sou uma artista empreendedora cansada).
Isso porque nada se cria do nada, então preciso alimentar a minha mente de arte para conseguir criar arte.
Não tenho uma meta diária. Escrever é o que alimenta a minha alma, então eu não cronometro minhas palavras como faço no trabalho. Escrevo o dia inteiro toda sexta-feira, e deixo a história fluir. Metas são colocadas apenas quando tenho deadlines de prêmios ou editais.
Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?
Tenho dois projetos no forno. Um spin off de O Diário de Amélia (será um conto contando a iniciação no mundo queer de outra personagem) e um novo livro sobre protagonismo feminino (é tudo o que posso dizer por enquanto). A ideia é seguir trazendo bom humor, beijos na boca e rotas de fuga para mulheres que merecem ser livres, mas que se perderam no caminho.
Comente!