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“13 Sentimentos” traz maturidade ao cinema LGBTQ+

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Ele voltou! Dez anos depois de dirigir um filme que foi um marco no cinema LGBTQ+ no Brasil, o fofíssimo “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, o diretor e roteirista Daniel Ribeiro nos presenteia com mais um filme queer, bem mais maduro e em sintonia com nossos tempos.

João (Artur Volpi) tem 32 anos, 1,83m e faz filmes. Ao menos é isso – algo a mais, algo a menos – que ele informa em um aplicativo de relacionamentos. Ele havia acabado de terminar um namoro de dez anos e de voltar de sua viagem de despedida do ex, Hugo (Sidney Santiago). O plano de João era focar nas filmagens de seu longa, mas sua produtora disse que ele precisava de um roteiro mais “maduro” antes de começar a rodar o filme.

O que resta para João fazer então? Editar um vídeo institucional chatíssimo. Sair para dates com pessoas que ele conheceu no aplicativo e encontrar defeitos em todos. Filmar vídeos íntimos de um casal maduro. E, em vez de burilar seu roteiro antigo, começar um roteiro novo baseado em sua própria vida.

Foto de Thi Santos

De início, João não segue a regra que diz “escreva sobre o que você conhece”. Seu primeiro roteiro, batizado de maneira clichê de “Ela e seus amores”, trata de uma mulher heterossexual de certa idade que revisita amores do passado. Seu segundo roteiro, que vai tomando vida com o desenrolar do filme, é sobre si mesmo e seus amores – ou a busca pelo amor. É mais crível, não apenas porque o vemos filmado na nossa frente, mas porque vem de um lugar conhecido, o do eu-lírico que é também alter ego.

E Daniel Ribeiro usou muito de si mesmo e de suas experiências para criar o roteiro de “13 Sentimentos”. A ideia surgiu de um término dele, do longo relacionamento com o também cineasta Rafael Gomes, que por sua vez fez o filme “45 Dias Sem Você” em 2018 para falar do término desta relação. O filme-resposta de Ribeiro demorou outros seis anos para ficar pronto, e chega num momento distinto, depois de tempos difíceis que ainda se desenhavam em 2018. Sobre o ato de escrever como catarse, Ribeiro declara:

“Eu acredito que escrever um roteiro e fazer um filme sobre minhas experiências é uma forma de compreender melhor meus sentimentos, e neste filme isso foi transferido para o personagem João, que também passa a escrever um roteiro onde ele pode transformar as partes da realidade que o desagradam, reviver cenas do passado como ele gostaria de ter vivido e reescrever os finais para serem mais felizes. Muitas pessoas aproveitam a experiência de assistir a um filme de ficção como um espelho da própria vida e, consequentemente, compreender melhor os próprios sentimentos, compartilhando-os secreta e intimamente com os personagens dos filmes. 13 Sentimentos, de alguma maneira, aborda essa ideia de buscar uma fuga nas histórias ficcionais, mas também lembra que uma hora precisamos enfrentar a realidade.”

Foto de Thi Santos

João está reescrevendo seu primeiro roteiro para se candidatar a um edital. É inegável que os editais de fomento à cultura, nos últimos vinte anos, foram de grande ajuda para tirar muitos projetos do papel e torná-los realidade. Mas ao mesmo tempo, existe um drama como o do nosso protagonista, que precisa mexer em seu texto para se encaixar à proposta do edital. Isso não cria obras engessadas e muito parecidas entre si, para se adequarem ao que é delas pedido? A criatividade não deveria ser um critério para a escolha das obras que vão ser produzidas?

João passa a filmar outros casais fazendo sexo, a partir da recomendação do primeiro casal para o qual ele prestou este “serviço”. Um destes casais insiste para que João se junte a eles, com um dos homens dizendo “Não existe não estar a fim de fazer sexo”. Mentira deslavada! Tudo depende do consentimento. Sabemos que depois do “não” tudo é assédio e felizmente o homem no caso não insiste, mas chegou a deixar João desconfortável.

13 Sentimentos” bem que poderia se chamar “Hoje Eu Não Quero Ficar Sozinho”. É um filme sobre um jovem homem gay, produto de seu tempo, que volta ao mundo dos encontros após um longo tempo comprometido. É um filme sobre se apaixonar e se deixar levar. Uma história tirada da vida real, portanto fresca e verossímil. É, em suma, um filme que mostra o quanto histórias diversas têm a acrescentar ao nosso cinema.

13 Sentimentos

13 Sentimentos
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Nota: 7/10 Ótimo
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