Numa entrevista recente ao jornal O GLOBO, a autora (!) Stephenie Meyer declarou “não se considerar uma escritora, mas sim uma contadora de histórias”. Isso diz muito sobre sua (rasa) literatura que rende tantos dólares na mesma intensidade com que expõe sua falta de ambição literária no ofício de estabelecer seus universos dado o fenômeno Crepúsculo que criou aplacar corações em puberdade (e destituídos de maiores exigências). Pois agora ela vem com (depois do livro, o roteiro) A Hospedeira, tentativa de expandir seus domínios para uma nova trilogia, ainda que mal sucedida pois diferente do livro, o filme foi um fracasso de bilheteria.
A trama é ambientada num futuro não especificado em que a raça humana foi subjugada por uma civilização alienígena. Seres que invadiram os corpos de quase toda a humanidade, restando apenas uns poucos resistentes. Esses alienígenas são inseridos no corpo das pessoas por meio de uma incisão logo abaixo da nuca feita por outros humanos já dominados. Melanie (Saoirse Ronan) já logo no início da história aparece fugindo dos chamados “buscadores” que caça os humanos ainda não dominados. Ela é capturada e em seu corpo é implantada a E.T. Wanda, cuja missão é vasculhar suas memórias e descobrir o paradeiro de outros rebeldes. Evidente que sua insurgência a leva de volta a seu grupo, só que tendo de lidar com a desconfiança e o desprezo, principalmente, de seu grande amor.
Não dá para dizer que o argumento em si é ruim e Meyer levanta bons ganchos dramáticos a partir daí 9o fato da protagonista levar consigo uma outra persona rende bem desde Irmãos Coragem, novela setentista da Globo). E ponto. Só levanta, mas como é uma péssima contadora de histórias não desenvolve, muito menos traz lógica á questão levantada. Tudo é assustadoramente mal contado e o roteiro se formata por erros até bem infantis (como a trilogia Crepúsculo!). Como a raça alienígena conseguiu dominar o planeta? Por que o conflito se dá exatamente com Melaine? Para quê explicar? São só detalhes, né?! O que se mantém intacta é a mensagem conservadoramente mórmon em seu descaramento narrativo. Fora o acúmulo de personagens mal desenhados e que se contradizem o tempo inteiro (reparem no percurso dramático do “mocinho” da história).
Andrew Niccol, que responsável por obras como Gattacca, e pelo roteiro de O Show de Truman, limitou-se a estabelecer um bom design estético ao filme e pouco pode fazer a um texto tão medíocre. Saoirse, excelente atriz de sempre, também cumpre sua função protocolarmente (mas vale dizer que a expressividade de seu olhar, tão definitiva na obra-prima Desejo e Reparação, aqui é primordial). Ou seja, o problema está na retaguarda de Meyer que esquece que até para ser contadora de histórias é preciso um mínimo de coerência. Talvez se trabalhasse no setor de marketing de sua religião, a eficácia viria sem sacrificar sua dignidade, pelo menos, artística.
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