A juventude de hoje em dia talvez nem tenha ouvido falar em John Hughes. Ou conhece apenas os seus filmes pelo título, mas não o diretor. Também não cresci com ele. Na época em que seus filmes eram famosos e ele estava no auge, eu aprendia a andar e falar.
Graças a sessão da tarde eu conheci Clube dos Cinco, Curtindo a Vida Adoidado, Gatinhas e Gatões e meu favorito, Mulher Nota 1000.
Hughes sabia falar com e sobre adolescentes e tudo o que eles desejavam. Bom, essa linguagem diferenciada e que fez sua fama, assim como a de muitos atores, morreu com ele em 2009. De lá para cá os filmes voltados para esse tema, sempre mostram a mesma história, linear, sem mudanças e com final previsível. Parece que não existia um outro jeito de abordar os anseios adolescentes (e olha que são muitos!) sem fazê-lo diferente.
Em A Mentira (Easy A no original), as coisas fogem um pouco a essa regra. Em uma releitura completamente inusitada de A Letra Escarlate, Olive Penderghast (Emma Stone) resolve mentir sobre ter saído com um calouro da faculdade para fugir de um acampamento com os pais de sua melhor amiga. Na Segunda, Rhi (Alyson Michalka) a pressiona para saber mais detalhes do encontro e Olive resolve narrar como foi até que entre informações trocadas, Rhi entende que a amiga perdeu a virgindade naquele mesmo final de semana, quando na verdade ela nem saiu do quarto. O que ela não esperava era que a beata da escola, Marianne (Amana Bynes) ouvisse a história e espalhasse para toda a escola que Olive não é mais virgem.
O que a princípio pareceu ser um boom em sua vida social, logo vira uma enorme bomba relógio. Inventando uma mentira atrás da outra para “manter sua reputação” e ajudar aos oprimidos, Olive se vê presa numa enorme teia e sem saber como sair. O desfecho para essa complicada situação? Contar a verdade, claro. Mas, no melhor estilo possível.
Com direção de Will Gluck e roteiro de Bert V. Royal, A Mentira, acaba se tornando um filme adolescente moderno, mas com inspiração nos clássicos dos anos 80, aqueles mesmo citados lá no início. Uma brisa para aliviar as muitas tempestades que andam surgindo em Hollywood.
A escolha do elenco não poderia ser melhor e Emma Stone é perfeita para a comédia. A perspicácia da personagem, as falas, as caretas tudo se encaixa muitíssimo bem. Aliás um dos grandes acertos nesse filme é o elenco e como o entrosamento entre os núcleos funcionou magistralmente.
A família de Olive composta por Stanley Tucci e Patricia Clarkson é hilária, e mesmo o cenário sendo sempre a rotina em família não altera em nada o tempo de comédia. Mesmo estando entre grandes veteranos, Stone consegue manter o spolight focado em si o tempo todo, mas sem parecer forçado.
A única falha foi a Lisa Kudrow, que parece não conseguir sair da personagem Phoebe de Friends, o que é uma pena. Em suas cenas é nítido que os trejeitos da personagem estão lá, entranhados nela para sempre Diferente de outros filmes do gênero o dito mocinho não tem muita vez. Interpretado por Penn Badgley, Todd, aparece ocasionalmente apenas para fazer presença.
A trilha sonora é ótima e tem desde clássicos como “Bad Reputation” de Joan Jett até Pussycat Dolls e One Republic.
Se fosse vivo, John Hughes teria gostado da “homenagem”.
[xrr rating=4/5]
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