O ano de 2012 agora vive apenas em nossas memórias e nas páginas da história. Muitos filmes foram listados e comentados com maior profundidade no capítulo denominado “Sétima Arte”. A produção iraniana “A Separação” é figurinha fácil nessas listas e não apenas por ter sido laureada com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas porque é um filme de qualidade inconteste independente dos prêmios que ganhou ou deixou de ganhar.
Como o próprio título sugere, há um processo de separação do casal protagonista, porém, essa situação é apenas a gênese de todos os demais acontecimentos. Há pouquíssimos diálogos que dão conta da possibilidade de um retorno do casal, mesmo que ambos ainda estejam apaixonados. Um cruzamento do antigo com o moderno é sutilmente desenhado aqui. Se por um lado o homem acha que a mulher deve ser submissa aos seus desejos e vontades, tendo que respeitar a sua “autoridade” – caso ainda queira ser sua esposa, de outro temos a mulher contemporânea que é dona de si e que não está disposta a acatar as ordens do marido, mas conduzir sua vida de acordo com suas próprias escolhas.
Pequenas imagens do cotidiano, que não interferem de modo direto na trama central, são inseridas nos primeiros minutos do filme. O que poderia ser maçante nas mãos de outros profissionais é habilmente utilizado pelo roteirista e diretor Asghar Farhadi. Cenas corriqueiras desse tipo, quando bem construídas, conduzidas e executadas, como é o caso, são bastante lucrativas para um filme, pois nos aproximam dos personagens. O uso constante de câmeras na mão potencializa esse contato.
Questões religiosas figuram de modo definitivo na narrativa, o que não quer dizer que os conflitos apresentados no filme não possam ser facilmente transferidos para qualquer outra parte do globo, para qualquer outra religião, guardadas as devidas proporções.
Assim como na chamada vida real, não temos aqui personagens totalmente isentos de responsabilidades. Aquelas figuras que pululam em filmes menores, que não possuem uma só mancha em seu caráter, pessoas ideais que estão dispostas a sofrer todas as consequências da verdade não foram escaladas. As pessoas reais aqui apresentadas trabalham, sim, para defender seus interesses, mesmo que isso signifique omitir certos fatos.
“A Separação” não é um filme para poucos, sua estrutura e tema são bastante palatáveis, mas é uma daquelas obras que não conseguiu o espaço merecido nas salas de exibição pelo simples fato de não ser uma produção estadunidense ou europeia. Só que, não obstante esse detalhe, o filme provou que um trabalho consistente pode sobrepujar com louvor esses obstáculos comerciais e se inserir no panteão de grandes filmes.
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