Seguindo uma tendência contemporânea, A Viagem, consegue ser versátil e intrigante. Neste longa, seis tramas intercaladas mantém uma aceleração constante. Elas se passam em diferentes épocas e locais, sempre apontando para uma correlação entre si. Os irmãos Andy e Lana Wachowski (de Matrix) e o alemão Tom Tykwer (de Corra, Lola, Corra) não chegam a trabalhar juntos na direção, pois a filmagem é dividida em duas equipes em que o alemão dirige as cenas de época e os irmãos cuidam das cenas futuristas.
Contando com um elenco em que estrelam Tom Hanks, Halle Berry, Hugh Grant, Susan Sarandon, Jim Broadbent, Hugo Weaving, Doona Bae, entre outros, eu arriscaria dizer que quase nenhum talento foi desperdiçado – com exceção, talvez, de Susan Sarandon –, com destaque para Tom Hanks, Halle Berry e Hugh Grant.
Todos eles trocam de personagens, etnia e até de sexo diversas vezes ao longo do filme. Em algumas passagens, é um divertido desafio tentar reconhecer os atores em outras personagens devido ao excelente trabalho de maquiagem e figurino. Uma edição de tirar o chapéu garante que o salto entre as cenas ocorra com fluidez, de modo que os objetos e situações no início de uma cena fazem alusão ao término da anterior mantendo uma continuidade.
A Viagem tenta (e até consegue) ser filosófico, se arriscando em narrativas que por vezes quase escorregam para um clichê. A ênfase na ideia de interdependência entre os seres humanos e suas ações no tempo e espaço é um tanto cansativa em certo ponto, mas garante que a mensagem seja transmitida. Algumas questões já exploradas em ficção científica são trabalhadas, como a dos clones. Fantasia e espiritualidade também têm espaço junto a uma das personagens de Tom Hanks, líder de sua tribo, em que um demônio (ou um Leprechaun?) está sempre em seu encalço.
Despertando opiniões contraditórias entre críticos e público, A Viagem consegue ser uma mistura de gêneros que, surpreendentemente, funciona. O trabalho de edição e a inusitada recorrência dos atores em diversos papéis, sem dúvida, contribuem para tal. A duração de quase três horas de filme o torna um pouco cansativo, mas o ritmo consegue segurar a plateia até o fim. A despeito da suposta superficialidade requerida por tramas que dividem espaço com outras cinco, conseguimos ver estórias que, ainda que interconectadas, se realizam em si mesmas com uma profundidade admirável.
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