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Acima da média, “Serra Pelada” funciona como parábola da ganância de um Brasil ainda em formação

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“Serra Pelada” é um filme sobre ambições. Ambições legítimas e ordinárias. O diretor Heitor Dhalia tem uma expertise que trafega bem entre elipses técnicas e proporções discursivas em sua cinematografia (afinal, “Cheiro do Ralo” e “12 Horas” são tão díspares que só configuram a prolificidade do diretor).
Ele guardava esse projeto há anos e vendo o resultado entende-se bem a dificuldade para pôr em pratica, dada a complexidade da grandiloquência do projeto. A própria história do lugar é impressionante. “Serra Pelada” eram “garimpeiros construindo uma pirâmide de cabeça para baixo”. Em todos os sentidos. Juliano Cazarré e Julio Andrade (ambos na medida de suas composições) são amigos que partem juntos em busca do sonho de ficar rico rapidamente, impulsionados pelas notícias que se espalham sobre o sucesso do garimpo. O sonho se torna realidade, como eles planejavam, mas quando o dinheiro começa a aparecer de verdade, a amizade que os unia vai dar lugar a brigas e realçar suas diferenças. O personagem de Cazarré assume os negócios, cego pelo poder e quer transformar Joaquim (Andrade), antes tratado como sócio e irmão em mais um empregado. Suas personalidades vão definindo e definhando essa relação, sob a crueza da lama e de um Pará banhado a ganância e a sangue.
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A estrutura narrativa, que lembra sim “Cidade de Deus”, nos coloca como testemunhas à parte daqueles homens diante de suas ganâncias. Serra Pelada era feita disso. O roteiro parte da relação de dois amigos (os excelentes Juliano Cazarré e Julio Andrade) para ampliar para esse contexto histórico seu estudo sobre a ambição. Tramas paralelas vão fermentando essa história trazendo elementos de filmes de gangster na figura irrepreensível de Wagner Moura e na doçura ruidosa de Sophie Charlotte, numa atuação que a TV ainda não viu.
Ciente de seu papel como alegoria dessa quase parábola, o roteiro por vezes derrapa na simplificação de sua trama, principalmente na primeira grande virada. Mas acompanhando a grandeza de sua própria proposta, Heitor concentra seu talento naquilo que importa em seu filme: o retrato nocivo de como a ambição (para o bem ou para o mal) literalmente, move montanhas.

[xrr rating=3/5]

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