Quando um ator passa a ser muito conhecido por uma linha de interpretação, o caminho natural é arriscar algo distinto para mostrar e afirmar sua versatilidade. Após interpretar papeis carismáticos e maneiristas como o Capitão Jack Sparrow de Piratas do Caribe e toda a gama de tipos exóticos nos filmes do seu chapa Tim Burton (fora um ou outro filme esquecível), Johnny Depp buscou no chefão do crime Whitey Bulger o canal para compor um tipo que fugisse do seu habitual no thriller “Aliança do Crime” (Black Mass, EUA/2015).
Baseado na saga real do maior líder do crime organizado de Boston nos anos 70 e 80, o filme se centra em John Connolly (Joel Edgerton) e James “Whitey” Bulger (Depp) cresceram juntos nas ruas de South Boston. Décadas mais tarde, no final de 1970, eles se encontrariam novamente em caminhos opostos. Até então, Connolly foi uma figura importante no escritório de Boston do FBI e Whitey tornou-se o poderoso chefão da máfia irlandesa local.
A ligação entre eles, de negócios escusos a segredos comerciais para neutralizar a máfia italiana de Boston do controle das atividades criminosas,desencadeia uma espiral fora de controle, levando a assassinatos, tráfico de drogas, acusações de extorsão, e, em última instância, colocando Bulger na lista dos dez mais procurados do FBI .
Como é de praxe em Hollywood, a trajetória de um criminoso é mostrada se pavimentando pelo viés do espetáculo e no caso de um personagem como Bulger não seria diferente. Quando se fala em filmes em que a peça central é um mafioso, as referências sempre serão a trilogia “O Poderoso Chefão” de Francis Ford Coppola, “Scarface”de Brian De Palma e “Os Bons Companheiro” de Martin Scorsese.
O diretor Scott Cooper (de Coração Louco) certamente não teve a pretensão de superá-los ou mesmo se equiparar, mas sem dúvida pediu a benção a esses três títulos antes de começar a rodar suas câmeras e realizar seu bom trabalho de direção de atores. O mesmo fizeram os roteirstas Mark Mallouk (de “Rush no Limite” e “Everest”) e Jez Butterworth(de “No Limite do Amanhã” e “007 Contra Spectre”) antes de alinhavar o script.
Não chega a surpreender a escolha de uma linguagem cinematográfica que remetesse às películas dos anos 70 e início dos 80, recurso usado por 9 entre 10 cineastas jovens quando querem imprimir relevância a seu trabalho, principalmente quando a referida época é retratada na trama. Isso fica nítido nos planos, no ritmo da edição e na fotografia.
Depp de fato brilha como protagonista. Sua composição do personagem aliada a um ótimo trabalho de maquiagem o fez incrivelmente semelhante ao Bulger real. E não há nenhum traço de seu habitual histrionismo, que até funciona dependendo do contexto, mas aqui seria desastroso. Porém o trabalho dos coadjuvantes também merece a devida atenção, sobretudo Benedict Cumberbach, que interpreta o político Billy Bulger, irmão do protagonista.
“Aliança do Crime” se vale mesmo da interpretação inspirada de Depp, o grande trunfo do filme, mas apesar de a trama não sair do lugar comum do gênero ‘máfia vs lei’, é desenvolvida a contento e cumpre com a proposta de mostrar de forma definitiva na dramaturgia a carreira de uma dos nomes mais significantes dos arquivos criminais do FBI.
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