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Antes do Oscar, o Cinema Brasileiro precisa de auto-estima

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Não há mistérios nas sucessivas não-indicações de filmes nacionais para a noite do Oscar. Pelo menos aos observadores mais atentos. Existe uma recorrência equivocada de parâmetros estratégicos para tal; e isso vem acontecendo desde a indicação de Central do Brasil, de Walter Sales, no distante ano de 1998.

Dessa vez, Lula – O filho do Brasil, foi a tentativa da tal comissão, indicada pelo governo. O filme de Fábio Barreto não é esse horror que a mídia tenta vender. Aliás, acho até o filme bem emocionante e o melhor trabalho do diretor (se bem que isso para alguém por trás do lixo Bella Donna nem é tanto gabarito). Na verdade, dentro do que se propõe – narrar a figura política do ex-presidente até sua primeira prisão na organização sindical – o filme é correto. E com o auxílio de Glória Pires a coisa fica até mais fácil. Mas está longe de ser representativo para Oscar, principalmente quando se olham os outros 23 concorrentes domésticos à indicação.

O colegiado é formado por representantes do Ministério da Cultura, da Agência Nacional de Cinema do Brasil (Ancine) e da Academia Brasileira de Cinema (CBC). E numa justificativa bem pedestre, foi dito que o filme foi a escolha mais acertada por casar temas universais e políticos numa dramaturgia forte. Lula – O filho do Brasil não é um filme tematicamente forte e Fabio não consegue arrojar seu discurso a uma universalidade. Ele é a contento como biografia, especialmente pertinente a um contexto político. E só.

É preciso entender que se a Academia do Oscar faz (muita) concessão para as categorias principais, o mesmo não se pode dizer para a escolha de filmes estrangeiros. Historicamente nota-se que sempre descamba para uma escolha mais artística ou de consonância (muitas vezes pseudo-heróica) política.

A questão nem é dizer que o Brasil não tem o cacife de uma França, ou até mesmo de uma Argentina (que já possui duas estatuetas) para ganhar o seu esperado Oscar. As razões para tais são até bem mais complexas e desconhecidas. Mas esse tal colegiado deveria se prestar a buscar indicar filmes que dialoguem com o mundo, não com os (até extensos) km² do território nacional.

Dentre os brasileiros que estavam no páreo, pelo menos dez teriam mais cacife para uma briga séria em Hollywood do que o filme irregularmente escolhido: De retratos sinceros e maduros da geração emergente como As Melhores Coisas do Mundo e Antes que o Mundo Acabe, experimentações sensoriais do mesmo tema no interessantíssimo Os Famosos e os Duendes da Morte, radiografias sociais sem vícios estilísticos como o viés “neorealismo italiano” de 5 vezes Favela ou a sina humanística de Bróder e até (para mim, a melhor escolha!) uma reflexão (notadamente universal) sobre o abismo das relações humanas (de fazer o cinema argentino plaudir) no arrasador É proibido fumar.

No próximo ano, é provável, que teremos a indicação quase natural do virtuoso Tropa de Elite 2. Mas até quando o cinema nacional vai depender da espetacularização (ainda que necessária) da violência urbana par se impor externamente? Já que quando não aparecem as “Cidades de Deus” da vida, o cinema nacional perde sua identidade, é necessário com urgência rever a forma da instituição se olhar no espelho. Da lente da sétima arte.

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4 Comentários

  • Também não concordo que tenha sido uma boa escolha. Mas ainda não entendo porque damos tão mais valor ao Oscar do que à Palma de Ouro ou outros prêmios. Principalmente que Cannes é um festival sem fronteiras, onde tudo e todos se misturam para serem premiados. Já o Oscar é o prêmio para a Academia Americana Cinematográfica, sendo assim, tendo um prêmio ou dois para os 'de fora'.
    Acho que a nossa auto-estima poderia começar por aí, de não necessitarmos dessa tamanha aprovação de um prêmio que não é para nós, não-americanos, num geral.

    • Concordo. Temos que olhar para o Oscar e outras premiações americanas como pertencentes àquela indústria; os prêmios estrangeiros são reconhecimentos deles para o cinema de fora – mesmo com as muitas concessões de muitos cunhos.
      A tradição do Oscar é forte devido a sua primazia em sua localidade geopolítica e um centro de ótimos clássicos que são exemplos mundialmente.
      Como dito há maravilhosas premiações concorridas no mundo que já possuem uma grande estabilidade e hoje há "cinemas" bons em diversas partes.

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