Quando “Resistência” teve as primeiras imagens e trailer divulgados, era inevitável que se estabelecesse uma comparação com Star Wars. Afinal, o diretor Gareth Edwards foi o responsável por “Rogue One – Uma História Star Wars”, o único dos filmes da franquia produzido sob a gestão da Disney que agradou a quase todos os fãs da saga espacial. Marotamente o trailer privilegia as cenas que mais lembram a incursão do cineasta na Lucasfilm. E até começou a correr o boato de que o filme desempenharia um papel importante na ficção científica (os fãs sempre tão esperançosos). O fato de esse ser o primeiro filme do cineasta desde o spin-off de Star Wars foi outro motivo que acendeu a curiosidade geral.
A trama se passa em meio a uma futura guerra entre a raça humana e as forças da inteligência artificial, Joshua é um ex-agente das forças especiais que sofre com o desaparecimento de sua esposa. Ele é recrutado para caçar e matar o Criador do título (no original “The Creator”), o arquiteto escondido dessa IA avançada que desenvolveu uma arma misteriosa com o poder de acabar com a guerra e com a própria humanidade.
O roteiro assinado pelo próprio Edwards e Chris Weitz, que também escreveu “Rogue One”, se esforça para criar algo novo, isso é notório. No entanto, acaba caindo no dilema criatividade versus potencial comercial, e o segundo acaba pesando. Trata-se de uma produção da 20th Century Studios, que assim como a Lucasfilm pertence à Disney, que como se sabe não é muito afeita a correr riscos. Com isso, até o meio termo pretendido foi frustrado. O que não significa que seja um filme ruim.
Edwards proporciona um deslumbre visual. Amparado pela fotografia soberba de Greig Fraser (outro colaborador de Rogue One) e Oren Soffer e o design de produção de James Clyne (“Avatar”, “Star Wars: A Ascensão Skywalker”), o diretor se mostra um pujante criador de universos que certamente arrancou um sorriso de George Lucas, feliz por identificar um sucessor. Em vários momentos são vistos elementos que foram trazidos de “Rogue One”, mas isso já era mesmo esperado. Até pelo fato de o mote já evocar a saga intergaláctica, uma vez que se trata de um grupo rebelde contra uma força opressora.
O diretor não poderia deixar de colocar alguns easter eggs. Um exemplo é na cena em que Joshua e Alphie no LAX, passam por uma tela mostrando as partidas e em uma delas tem um lugar chamado “Scarif” como destino, que era um planeta no filme de Star Wars. E vale ressaltar que os efeitos visuais são sem dúvida os melhores que você verá esse ano.
A parte técnica não é o único suporte da produção. Há sim uma boa história sendo contada, um roteiro funcional. Personagens bem construídos, uma reviravolta que, se não é das mais impactantes é satisfatória. Já a duração de 2h13 é um pouco desnecessária. Faltou um pouco de tesoura na hora do corte final.
John David Washington interpreta o protagonista (que ao contrário de “Tenet” não tem apenas esse nome, é apenas um hiperônimo usado aqui) com a sua frieza característica, mas muito bem vinda para a composição. O personagem, inclusive, foi pensado para ele. Ken Watanabe é correto em seu papel e Gemma Chan, reluzente, destaca-se, ainda que de forma minimalista.
A expectativa de “Resistência” se unir a “Star Wars”, “Blade Runner” e “Matrix” como marco na ficção científica ficou na promessa. Apesar de seus méritos, sobretudo no que tange à parte técnica, não vai muito além do que já foi visto à exaustão no gênero. Mas vale lembrar que não é todo dia que temos um filme dessa seara que não seja adaptação, remake, prólogo, reboot ou continuação. E bom ainda por cima. Só isso já merece uma celebração.
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