Um dos destaques da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e escolhido como representante da Suíça no Oscar 2021 na categoria de Filme Internacional, “Minha Irmã” (dirigido por Stéphanie Chuat e Véronique Reymond), conta a história de Lisa (Nina Hoss), alemã autora de livros literários de renome, que tenta se reequilibrar após acompanhar o tratamento de câncer de seu irmão gêmeo Sven (Lars Eidinger). Lisa mora em Lausanne na Suíça com seu marido Martin (Jens Albinus) e seus filhos. Já Sven mora em Berlim e é um ator de teatro famoso, porém se encontra bastante fragilizado pelo tratamento.
Sven mora com sua mãe, uma senhora pouco cuidadosa consigo mesma e com sua casa. Devido ao estado frágil em que seu irmão se encontra, Lisa não permite que Sven retorne à casa bagunçada em que mora após o tratamento, decidindo levá-lo para passar um tempo morando com ela, seu marido e filhos em Lausanne. Sven concorda e, durante sua estadia, se aproxima dos sobrinhos, desenvolvendo um ótimo relacionamento com eles – e esse relacionamento concentra os poucos momentos leves de todo o filme.
Além da questão de saúde do irmão, Lisa vive problemas em seu casamento. Apesar de existir amor entre o casal, Martin recebe uma proposta de trabalho irrecusável que ameaça quebrar um acordo que existia entre eles, causando um desentendimento entre os dois. Ele é convidado a dar aulas em um colégio na Suíça, como professor permanente, um de seus sonhos. Porém o casal havia combinado que a mudança para a Suíça seria temporária e em breve a família voltaria a morar na Alemanha, a terra natal de Lisa.
Os grandes destaques do longa-metragem são os atores que interpretam os irmãos, que se entregam aos seus personagens e conseguem transmitir com muita verdade as dores e incertezas vividas por eles. Na atuação de Lars Eidinger o público tem a total compreensão de toda a dor que Sven sente e do seu desejo em retornar aos palcos o mais rápido possível para interpretar Hamlet. Em determinado momento da narrativa, Sven passa a usar uma peruca, que é milimetricamente mal colocada, e que o deixa com uma aparência entre o caricato e alguém ainda bastante doente.
O efeito fotográfico do flare é usado pelo filme como recurso narrativo para reforçar o quanto Sven está fragilizado e não consegue olhar diretamente para a luz natural sem que seus olhos fiquem prejudicados. E Nina Hoss interpreta Lisa de forma intensa, trabalhando com muita naturalidade as mudanças de humor da personagem, que transita entre a calmaria e a raiva. O trabalho primoroso da atriz possibilita ao espectador sentir o peso dramático da personagem, tanto nos momentos em que ela está preocupada com a saúde do irmão, quanto nos momentos em que ela se decepciona com Martin, que não a compreende e toma decisões sem consultá-la.
“Minha Irmã” é um filme sobre relacionamentos e sobre doenças terminais. Como o câncer de Sven requer muitos cuidados, nos momentos em que precisa ser hospitalizado ele fica isolado em um quarto e o uso de máscaras e álcool em gel passa a ser obrigatório para quem o visita. Dada a situação pandêmica pela qual o mundo está passando no momento, o longa pode causar um desconforto ainda maior no espectador. Isso não impede que o filme seja apreciado como uma obra muito bonita e com grandes atuações.
Nota: 4,0 Estrelas
Comente!