Noah Baumbach é conhecido por seus filmes de baixo orçamento, cuja atração principal são os personagens e os diálogos. Ao longo de sua carreira, que inclui os filmes: Kicking and Screaming, O Solteirão, A Lula e a Baleia e Margot e o Casamento, a juventude e os momentos de transição sempre ressaltaram nos temas de suas tramas.
Escrito por Greta Gerwig (também protagonista do filme) e Noah Baumbach, sua segunda parceria desde que iniciaram um relacionamento, Frances Ha fala sobre uma mulher de 27 anos, num momento de sua vida em que cada passo que dá é um passo mais distante de seu momento como estudante e mais voltado a um futuro incerto de decisões e responsabilidades. Com pouca estabilidade em seu trabalho numa companhia de dança, Frances se vê obrigada a trocar de endereço algumas vezes ao longo do filme, criando um mecanismo narrativo de divisão em capítulos que pontuam os diferentes momentos da protagonista.
O diretor se apropria mais uma vez de uma fórmula que parece se repetir no seu trabalho: montagem rápida de diferentes cenas que cumprem o papel de elucidar o espectador em relação a diferentes características do personagem, sem ter que se aprofundar ou se alongar, ou simplesmente servem como indicativos pontuais de emoções, interações ou eventos na vida da protagonista, contextualizando ou jogando a história pra frente. Isso torna a narrativa um pouco rasa, mas funciona, até certo ponto, pois realmente gera impressões no espectador, passando a mensagem pretendida, enfim. Essa tática definitivamente funciona melhor como introdução do filme. Quando utilizada pela metade da duração, dá uma sensação de preguiça por parte do diretor e de esvaziamento por parte de quem assiste.
A fotografia em preto e branco, parece se inspirar naquela de Manhattan, de Woody Allen, tanto pelo alto contraste como também por usar Nova Iorque como pano de fundo.
Não sendo as especificações técnicas as responsáveis por tornar sua obra tão especial, seu maior trunfo neste filme é novamente realmente ter conseguido construir uma personagem super complexa, cheia de idiossincrasias e trejeitos que a constituem como uma pessoa real, alguém que podemos acreditar que existe no mundo. Além disso, consegue trazer de maneira eloquente o tema desse momento tão difícil na vida dos pós jovens, pré adultos. A incerteza que rodeia a personagem não nos deixa cair em pessimismo, pois é equilibrada por sua alegria exuberante e sua insegurança confiante no melhor dos espíritos “não sei onde quero chegar, mas acho que vou conseguir”.
Uma das melhores cenas para exemplificar como Frances se sente é em meio a um jantar, quando lhe perguntam o que faz e ela responde “é difícil explicar, porque eu não faço”. Como dizer que é dançarina se efetivamente não trabalha com isso? Quando ainda não se encontrou em seu nicho? O filme deixa claro, então, aquela sensação de limbo, quando estamos em meio a um processo que não sabemos se está nos levando a lugar nenhum. Como quando estamos com um trabalho que nos ajuda a pagar as contas, mas dizemos sempre a nós mesmos que será temporário, porque nossa ambição real e artística vai prevalecer em algum momento.
Não só no campo profissional, Frances também representa a instabilidade dos relacionamentos, de amizade e amorosos, que se perdem em meio a mudanças de rumo inesperadas e diferença de perspectivas.
Os diálogos são divertidos, criativos e a interação entre os atores é natural e fluida, demonstrando uma intimidade que transparece de maneira agradabilíssima para o espectador. Uma outra conquista do filme é sua capacidade de transmitir inseguranças tão características de Frances – que podemos reconhecer facilmente no nosso cotidiano – através de pequenas reações e de uma decupagem atenta a detalhes, ainda que sutil.
Noah consegue, assim, de maneira otimista, nos apresentar um panorama de uma juventude incerta num momento crucial de transição. Um entre tempo que muitas vezes fica de fora dos filmes ou, quando é representado, cai em clichês e se utiliza de recursos artificiais.