As lágrimas amargas de “O Impossível”

Que a vida é mais surpreendente que a ficção todos já sabemos. Mas quando a ficção tenta dar conta de tamanha imprevisibilidade é que temos a verdadeira dimensão desse paradigma. O Impossível, não fosse baseado num alarmante caso real, poderia ser sintetizado em mais um filme de catástrofe que tanto Hollywood gosta de promover, principalmente para demonstrar seu poder de tornar possível (tecnicamente) o inimaginável. Mas sua legitimidade se amplia com a honestidade com que é mostrada na tela grande.

A narrativa acompanha um casal espanhol com seus três filhos nas férias de fim de ano na Tailândia, no ano de 2004. O inesperado Tsunami que devastou a costa do país acaba separando a família, que agora busca se reencontrar e sobreviver, tentando superar as diversas e dramáticas dificuldades  geradas pelo desastre e ainda ajudando outras pessoas no processo.

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O diretor Juan Antonio Bayona, que vem se destacando desde o comentado O Orfanato, consegue fazer da trama real, tão veementemente dramática, uma narrativa que, sem exageros, vai nos comovendo pela total assimilação afetiva que vamos construindo com aquela família. As cenas pré catástrofe são de delicadeza cotidiana, seja pelo carisma importantíssimo das crianças e do adolescente (que viram o esteio do filme), seja pela relação  delicada entre o casal formado pelos excelentes Ewan McGregore Naomi Watts. Quando enfim acontece o Tsunami, somos levados a um misto de tensão e comoção na luta da família pela sobrevivência e reencontro.

Alguns clichês são devidamente perdoados por justamente serem usados como corroboração imagética dos fatos reais. Para isso, Bayona precisou de muita habilidade em não cair no sentimentalismo, o que se revelou muito bem sucedido pela maneira com que estabelece a conexão do desastre com o drama daqueles personagens, em especial as crianças que são apresentadas como figuras humanas reais sem mitificações de comiserações.

É um filme grande pois acreditamos o tempo inteiro naquele desespero, nos olhares de esperança e na forma como aquelas vidas buscam suas conexões familiares. No cinema que assisti, vi famílias de mãos dadas numa interlocução afetiva que suplantava a barreira da ficção. Ewan e Naomi (ela, merecidamente indicada ao Oscar de Melhor Atriz) entregam performances arrebatadoras que só alinhavam o trabalho do diretor que (com o auxílio perfeito de efeitos visuais e sonoros) consegue deixar o lado humano (e mais importante) mais representativo que todo o barulho que um filme desses evoca. Assim, aproxima-se um pouco do impacto da vida real.

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