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Assalto ao Banco Central

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Grandes feitos sempre fascinam os seres humanos, mesmo que os tais feitos sejam malévolos. O cinema está repleto de transposições de grandes feitos para a tela grande, seja tirada de histórias em quadrinhos ou baseadas em fatos reais. Embora o crime não compense, ele atrai tanto nossas atenções quanto os inacreditáveis voos do Superman ou o majestoso balançar suspenso por teias do Homem Aranha, haja vista a quantidade de adaptações de feitos criminosos como Bonnie And Clyde, ou o clássico do cinema nacional O Assalto ao Trem Pagador de Roberto Faria que testemunha o momento de transição na criminalidade brasileira, a transformação do malandro de rua no bandido armado e anos mais tarde Cidade de Deus de Fernando Meirelles mostrou a segunda transição, a do bandido armado para o traficante de drogas.

Assalto ao Banco Central, que estreia nesta sexta depois de ter sido exibido pela primeira vez no festival de Paulínia, se insere entre as obras que tem como mote um ambicioso e arriscado plano arquitetado por uma quadrilha. Trata-se de uma ficção inspirada no crime que deixou o Brasil perplexo em agosto de 2005: o roubo de 164.7 milhões de reais do Banco Central de Fortaleza executado por bandidos que cavaram um túnel subterrâneo de 84 metros que os levou até o cofre. Foi o equivalente tupiniquim ao assalto ao trem pagador na Inglaterra que contou com a participação de Ronald Biggs, que passou anos foragido no Brasil. No filme, dirigido por Marcos Paulo, o mandante da quadrilha é Barão (Milhem Cortez de Tropa de Elite), bandido experiente com pretensões de dar um grande golpe. Para isso conta com sua mulher, a sensual Carla (Hermila Guedes), Fernando também conhecido como Mineiro (Eriberto Leão), falsificador de identidades e parceiro de Barão em crimes e golpes, Léo (Heitor Martinez) ex-policial expulso da corporação por corrupção e Doutor (Tonico Pereira), um engenheiro de idéias socialistas que perdeu o bonde da História e ainda acredita que roubar bancos ainda é uma forma de luta contra o capitalismo e o status quo.

No encalço do grupo está a dupla de policiais federais Chico Amorim (Lima Duarte), delegado veterano e consciente de que está se tornando obsoleto em um mundo em que o faro de detetive foi suplantado pela tecnologia da investigação e Telma Monteiro (Giulia Gam) a policial mais jovem e profunda conhecedora dos novos métodos tecnológicos de investigação colocando em pauta a velha questão paradoxal do conflito e aliança de gerações.

Embora o filme conte com um elenco de qualidade indiscutível, apenas Lima e Giulia se destacam, não por demérito dos demais e sim pela demanda dramática dos personagens. Os únicos personagens com alguma profundidade foram dados, ao que parece intencionalmente, aos dois nomes de maior peso no elenco. Dá gosto ver Chico e Telma em cena pela qualidade do texto e química entre os atores. O único deslize aqui fica por conta do estereótipo, em todos os sentidos, recorrente sobre mulheres “eficientes demais”. O restante fica a mercê de personagens rasos, cujo conflito praticamente se resume ao roubo a ser executado. Milhem ainda carrega claramente cacoetes de Fábio, o 02 de Tropa de Elite 1 elevado a capitão da PM em Tropa 2, Eriberto, Hermila e Tonico estão corretos, pois o script não permite extrapolar e Vinicius de Oliveira, menino que encantou o Brasil ao lado de Fernanda Montenegro em Central do Brasil, interpreta o irmão evangélico e afetado de Carla um pouco acima do tom.

A direção de Marcos Paulo, do ponto de vista técnico, não deixa dúvidas de que há alguém experiente por trás das câmeras, mas é burocrática e se compromete apenas a contar a história sem que ousadias artísticas possam desviar as atenções da trama. O que se destaca é o inspirado trabalho de edição de Felipe Lacerda, imprimindo ritmo à história.

Por fim, Assalto ao Banco Central se insere na nova (e lucrativa) safra do cinema nacional, porém sem o brilhantismo estético de Cidade de Deus ou a denúncia e o questionamento da série Tropa de Elite. É um filme que mantém o alto padrão de qualidade técnica dos últimos dez anos, que muito se deve a parcerias com estúdios estrangeiros (no caso aqui Globo filmes e Fox), o que nos faz esquecer os tempos de som ruim, imagem precária e edição canhestra, mas tal qual uma maçã bonita, porém sem gosto, não fica muito tempo retido na memória.

[xrr rating=x/2,5]

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