Filme-evento da temporada de verão de norte-americano, “Barbie” cumpriu à risca o hype que alimentou nos últimos meses. E a grande responsável pior isso chama-se Greta Gerwig, a grande maestrina de relativizar o universo cor-de-rosa criando um filme que tanto se estabelece como entretenimento escapista como válvula discursiva contra o patriarcado. Esses extremos funcionam plenamente.
A história acompanha a Barbie Estereótipo (Margot Robbie, que nasceu para o papel), que num não tão belo dia, acorda de sua até então perfeita vida, com pensamentos de morte. Essa imperfeição se desdobra em outras que a fazem sair da Barbieland para a vida real, em busca de uma resposta e até de algum sentido que a valha.
O roteiro espertíssimo é da própria diretora, com seu parceiro frequente de vida e trabalho, Noah Baumbach, e a maneira como ela constrói a sátira sobre a visão estereotipada do que uma Barbie representa para com a figura feminina na sociedade é muito sagaz. Esse contraponto rende a Ryan Gosling as melhores cenas do filme (e uma de suas melhores performances) e piadas tecidas de um humor habilmente inteligente e, muitas vezes, bem mais adulto que o público ao qual a boneca comumente é destinada.
Essa apropriação que Greta propõe aqui, relativiza até a própria crítica que o filme faz e isso é bom. A diretora tá ciente disso e enverniza tudo com destreza (a direção de arte é excepcional!) para que, enquanto distrai nosso olhar, incutir reflexão hilária e interessante sobre a condição feminina através do prisma questionável de uma boneca que ajudou a não construí-lo. A piada começa aí. E termina rindo de si mesma.
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