Atenção: contém Spoilers
Alguns dizem que talento vem de berço. Na história do cinema, não faltam exemplos de filhos que seguiram os passos dos pais atores e se tornaram também intérpretes de sucesso. Um caso recente que mostra que filho de peixe, peixinho é, é o de Denzel Washington e seu filho John David Washington. John David vem trilhando uma carreira excelente, com papéis em filmes exitosos, como Infiltrado na Klan, Tenet e Malcolm & Marie. Seu mais novo filme, Beckett, chega à Netflix para agradar a quem gosta de suspense e ação.
Beckett (John David Washington) e a namorada April (Alicia Vikander) estão de férias na Grécia. Tendo saído de Atenas, estão no interior quando Beckett cochila ao volante, causando um acidente que termina com o carro invadindo uma casa e com April morta. Tendo de lidar com o luto, Beckett descobre que não pode contar com a polícia do local ao contar que viu um garoto na casa onde o carro foi parar. O garoto é Dimos Karras, sobrinho de um político ateniense, que foi sequestrado e está sendo mantido refém. A partir de então, Beckett se vê no meio de uma rede de intrigas, podendo contar apenas com a ajuda da alemã Lena (Vicky Krieps).
Mesmo filmado na Grécia, o filme evita as paisagens paradisíacas como as praias de Santorini e o Partenon, preferindo ambientar a ação em ruínas, ambientes rústicos e ruas de verdade. Essa escolha tira o glamour e mexe com nossos pré-concepções acerca da Grécia, país que vem sofrendo economicamente porém demonstrou que pode ser um ótimo polo para filmagem, afinal, não são só as praias de Mamma Mia! que encontramos por lá.
O filme acerta ao não endeusar a Embaixada dos Estados Unidos, local no qual Beckett tenta chegar a qualquer custo, mas onde ele não estará seguro. Era uma solução fácil e preguiçosa demonizar a polícia grega, colocando-a do lado dos sequestradores, e mostrar os funcionários da embaixada como heróis da diplomacia, sem segundas intenções. Entretanto, o filme se enrola ao criar uma situação de polarização direita / esquerda que não chega a ser bem justificada ou solucionada ao final.
Na peça de teatro e filme de 1964 Becket – O Favorito do Rei, Thomas Becket é um homem dividido: entre a amizade com o rei e os deveres como recém-nomeado arcebispo, e também entre o prazer e a fé. O Beckett de John David Washington também é um homem dividido: entre o luto pela perda da amada em um acidente que ele causou e a necessidade de sobrevivência imediata, e também entre a solução do sequestro do garotinho e a possibilidade de alguns momentos de tranquilidade.
Tendo como produtores executivos Luca Guadagnino e Rodrigo Teixeira, entre outros, Beckett é um bom thriller psicológico. Tem seus defeitos no roteiro, assinado pelo também diretor Ferdinando Cito Filomarino, mas compensa os problemas ao nunca desacelerar e manter o suspense em alta do começo ao fim.
Nota: Bom – 3 de 5 estrelas
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