Biutiful chegou aos festivais com grande expectativa, afinal pairava uma dúvida sobre como o mexicano Alejandro Iñárritu se sairia após romper com Guillermo Arriaga, seu roteirista de “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”.
Sem Arriaga, o diretor mexicano decidiu abandonar a estrutura intrincada e tramas cruzadas para contar a história de maneira praticamente linear, utilizando-se apenas de uma manobra que entrelaça o começo e final do filme. Mesmo que isto decepcione alguns cinéfilos xiitas, tal decisão de Iñárritu pode ser encarada como uma autoafirmação do seu cinema, que continua tão marcante quanto sempre.
Biutiful apresenta Uxbal – em atuação sensacional de Javier Bardem, um catalão que sustenta seus filhos Ana (Hanaa Bouchaib) e Mateo (Guillermo Estrella) intermediando trabalho ilegal de chineses e africanos em Barcelona e que descobre possuir pouco tempo de vida devido a um cancer de próstata terminal. Complicado o suficiente? Para Iñárritu nem um pouco! Uxbal precisa lidar também a aproximação de seus filhos junto à sua ex-esposa bipolar Marambra (Maricel Alvarez); mediar os conflitos entre a policia e os imigrantes africanos; remover o corpo de seu pai de um cemitério que irá se transformar em shopping center; agenciar o trabalho dos chineses ilegais; e garantir o futuro financeiro de seus filhos.
E como na vida nada é tão ruim que não possa piorar, Uxbal segue tomando porradas de todos os lados sob a cruel fotografia de Iñárritu, que faz questão de retratar a força de toda miséria humana. E novamente, se o filme não possui tantos personagens chaves como suas produções anteriores, em Biutiful o diretor dá força ao filme cercando Javier Bardem de excelentes personagens de apoio, como o irmão Tito (Eduard Fernandez), a imigrante africana Ekweme (Cheikh Ndiaye), o agenciador chinês Hai (Taisheng Cheng) e seu amante gay Liwei (Luo Jin).
O que poderia parecer visão da realidade onde a esperança não faz sentido e somos impulsionados apenas pelo instinto básico de sobrevivência se torna mais por um pequeno detalhe, um daqueles detalhes que mudam tudo: Uxbal possui o dom de se comunicar com os mortos através do toque, e mesmo que aproveite disso para ganhar um dinheiro com famílias desesperadas, sabe que existe algo mais além do mundo de carbono. Mas ter conhecimento e compreender são coisas bem diferentes (como já dizia Morpheus em The Matrix), assim no desespero de Uxbal em deixar nosso mundo encontramos a verdadeira mensagem de Alejandro Iñárritu com Biutiful, pois mesmo que distorcido, viver é realmente a mais bela das dádivas.
Se você não possuir tendências suicidas, não perca Biutiful nos cinemas!
[xrr rating=4/5]
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