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“Boas Intenções” é um feel good movie à francesa

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Existem filmes para todo tipo de situação: filmes para rir, para chorar, para divertir, para nos fazer pensar. O “feel good movie”, filão agradável e descompromissado da produção cinematográfica, diz respeito àqueles filmes que nos fazem sair do cinema mais leves, mais felizes, por vezes com uma fé renovada na humanidade. O cinema norte-americano está cheio destes filmes. E o filme Boas Intenções vem diretamente da França para também nos fazer felizes ao final da sessão.

Isabelle (Agnès Jaoui) dá aulas de francês para refugiados. Um dia ela descobre que há na escola outra professora de francês, mais popular que ela, e daí surge uma rivalidade – que se desenvolve de modo mais ou menos saudável. Outro conflito que Isabelle enfrenta é o desprezo de sua família pelo seu ofício: sua mãe, irmão, marido e filhos acham que ela apenas ajuda os refugiados para posar de boa samaritana e fazê-los se sentirem mal consigo mesmos por não serem tão caridosos quanto ela.

Depois de levar seus alunos ao teatro, Isabelle percebe que eles precisam de emprego mais do que de cultura. E, para conseguirem emprego, eles precisam de uma habilitação. Isabelle então tenta convencer o dono de uma autoescola a dar aulas de graça para seus alunos. Entre estes alunos, há gente de várias origens: Moldávia, Bulgária, Guiné, China e até do Brasil. E não será nada fácil ensiná-los a falar francês ou a dirigir.

Alguns personagens, como Ajdin, esposo de Isabelle, e Attila, dono da autoescola, são também refugiados e se mostram contra os atos voluntários de Isabelle. Uma das alunas inclusive diz que as fronteiras da França devem ser fechadas, para não entrar mais gente – esquecendo-se de que ela também é refugiada, e nada garante que ela seria capaz de entrar no país com as fronteiras fechadas. Muitas pessoas, e não é raro perceber isso, acabam se esquecendo de suas origens, das dificuldades por que passaram, e são incapazes de se colocar no lugar dos outros que estão passando pelos mesmos obstáculos agora. Seja por hipocrisia, soberba ou por puro trauma, muitos preferem esquecer que são imigrantes.

Durante a festa de Natal na casa de Isabelle, ela sugere que o dinheiro que seria gasto em presentes seja dado para uma instituição de caridade. Ao pedir indicações de instituições, inicia-se uma batalha de egos entre os presentes, com cada um querendo provar que sua instituição é melhor que as demais porque ajuda pessoas mais miseráveis. Quem disse que pobreza e tragédia não podem ser usadas para inflar egos alheios?

Bastante divertido, Boas Intenções conta uma história coletiva, jamais se atendo a um ou outro dos alunos de Isabelle. Embora eles tenham nome e história de vida, nenhum tem mais destaque que o outro, e esta é uma boa escolha: o drama dos refugiados é um drama coletivo. Dar rostos e nomes a estes refugiados, através dos personagens, ajuda a humanizá-los, sim, mas no final das contas nenhum precisa mais de Isabelle do que os outros: todos têm um objetivo em comum – conseguir a habilitação – e, no fundo, todos têm as mesmas necessidades, enquanto refugiados.

Boas Intenções é um filme sobre ajudar os outros e por eles ser ajudado. É sobre como um professor se salva quando salva seus alunos. É sobre se sentir estrangeiro não dentro de seu país, mas dentro de sua casa ou de sua família. É sobre como todos nós somos, de certa forma, refugiados – e como isso é bonito, porque podemos encontrar uma nova e acolhedora casa onde menos esperávamos.

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