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Crítica: “Caminhos da Floresta” e o penoso problema da falta de auto ironia

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O gênero musical requer uma estrutura dramatúrgica rígida na convergência entre narrativa e números musicais. É exatamente por essa “matemática” que seu resultado é sempre movido por superlativos: quando funciona, é sempre espetacular. Quando desanda, chega ao insuportável. Rob Marshall gosta de (se) desafiar o formato, pelo menos no tocante às adaptações de exemplares sagrados do gênero. E obtendo diferentes resultados, sempre entre essas duas perspectivas. Chicago – apesar da formalidade – captava bem as grandezas de um típico musical. Já Nine era pretensioso demais para (se) espetacularizar.

Agora, o diretor e coreógrafo investe na complexidade do mestre Stephen Sondheim no irregular Caminhos da Floresta (solução para o título original In The Woods), adaptação de um famoso musical da Broadway (claro!) que entrelaça diversos personagens-ícones dos contos de fadas como Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, Cinderella e João (do pé de feijão). A ideia original (e teatral) de Sondheim era relativizar o ideário de fábula, ironizando e humanizando esses ícones. Marshall parece ter temido demais esse iconoclastia e fez um filme reverente à tal fábula e sensivelmente desvinculado à essência de seu sentido original. E nem se trata de uma percepção apaixonada (não vi o texto no teatro), mas sim uma constatação incômoda da falta de cinismo da trama.

Enorme, o longa já tem problemas de ritmo logo em sua primeira meia hora. Assim, vira quase um suplício se envolver com os sucessivos números musicais que, ora encantavam (Chris Pine nunca esteve tão bem como em seu número na cachoeira), ora irritavam pela solenidade antiquada. O elenco é até promissor (Anna Kendrick, Johnny Depp), mas pouco pode se fazer com a falta de auto-ironia presente no roteiro e na direção, um tanto dura. Emily Blunt é ótima, mas o desenvolvimento de seu personagem é abrupto, mas interessado em cumprir os determinismos do plot, do que aprofundá-lo. Mas se um filme tem um destaque é mesmo Meryl Streep, como uma bruxa assustadora, crescendo absurdamente em seus números musicais. Essa discrepância, para além do indiscutível talento de Meryl, comprova como o diretor é reverente demais sem objetividade. Fica nítido que sua admiração pela atriz guiou suas cenas – em detrimento do todo. O mesmo fato se vale sobre o filme em si: diante de sua representatividade, Marshall se deslumbrou ao invés de alegorizar seu sarcasmo (que é o que o filme pede). Daí, Caminhos da Floresta virou quase um suplício interminável.

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1 Comentários

  • É impressionante como uma mesma obra de arte pode causar
    efeitos tão antagônicos nas pessoas. Particularmente, gostei muito do filme,
    como já gostava demais da peça. Bomba pra mim foi a catástrofe que Tim Burton
    fez de Sweeney Todd, outra masterpiece teatral de Sondheim. Escrita nos anos
    80, portanto muito antes desta onda de reinterpretação dos contos de fadas, a
    história fala, na verdade, sobre os ritos de passagem da alma humana. Do que se
    deseja ao que se alcança, da infância à vida adulta, da ilusão da fantasia ao
    choque da realidade. De como criar seus filhos, do que dizer a eles, de tentar
    protege-los do mundo. Que aliás é o que tenta fazer A Bruxa com sua filha
    adotiva Rapunzel. À principio uma vingança que se transformou num laço de
    afeto. A superproteção de uma mãe insegura. O final desta mesma Bruxa se dá
    quando ela resolve assumir todas as culpas das personagens ditas
    “inocentes” na história e assim, num misto de cólera e auto
    sacrifício, implode-se diante de todos. Com algumas poucas diferenças do texto
    da peça, Into The Woods para mim ainda é uma obra inquietante. Daquelas coisas
    que só serão reconhecidas talvez daqui a alguns anos ou décadas. Não seria
    primeira vez, nem a ultima no mundo das artes.

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