A DC tem personagens icônicos. A Marvel é icônica por si própria. Quando ela compreende essa alcunha de maneira clara em seus filmes, ela pode ser sensacional. Capitão América: Guerra Civil é exatamente isso: um blockbuster sensacional com, selo de garantia Marvel, e compreendendo exatamente a dimensão disso.
Os irmãos Joe e Anthony Russo, que já vinham do ótimo filme anterior do herói nacionalista, conseguiram tecer dramaturgia de um gênero/produto geralmente tão esquizofrênico (como os filmes dos Vingadores que nunca conseguiram tamanha precisão em seus histéricos exemplares), e fizeram emergir a potencialidade humanada de seus arquétipos fantasiosos. Mas o que mais impressiona é a capacidade da trama de discutir várias questões pessoais, desenvolvendo cada herói que aparece na tela, com tempo aparentemente semelhante para cada um ter o seu espaço e desenvolvimento.
Aliás, o desenvolvimento dos personagens é de extrema importância para o fato do resultado final ser tão acima da média. A inspiração em thrillers políticos ainda se faz presente e o antagonismo entre o Capitão América e o Homem de Ferro é conduzido com uma consistência dramática impressionante (as cenas finais desse embate são brilhantes), bem diferente de um certo confronto entre Batman e Superman.
Guerra Civil amarra alguns fatos do universo Marvel que estavam no ar desde o primeiro Homem de Ferro (2008). O filme coloca os Vingadores numa encruzilhada que dividirá o time em dois: de um lado, Tony Stark (Robert Downey Jr.) lidera o grupo que defende que os heróis sejam subordinados a uma organização internacional; do outro, Steve Rogers (Chris Evans) comanda os que preferem continuar autônomos, como uma força de defesa independente de vontades políticas.
O longa se baseia na história em quadrinhos de mesmo nome, mas adota um caminho levemente diferente. Falcão (Sam Wilson), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), liderados pelo Capitão América, estão perseguindo uma pista sobre o vilão, Ossos Cruzados (Frank Grillo) em Lagos, Nigéria. Porém, isto acaba provocando mais um incidente gravíssimo. Em razão disso, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Thaddeus Ross (William Hurt), informa que a ONU, apoiada por 117 países-membros, criou o Tratado de Sokovia.
Este tratado diz que todos os integrantes dos Vingadores que assinarem esse documento ficarão sob a responsabilidade de uma comissão daquela organização internacional que decidirá quando e onde eles poderão atuar. Aqueles que não concordarem em assiná-lo, devem se aposentar. Essa situação divide o grupo dos Vingadores, tendo o Capitão América de um lado e o Homem de Ferro de outro.
Para “ajudar” ainda mais, durante o evento de assinatura do Tratado, no prédio da ONU, em Viena, Áustria, acontece um atentado. E as investigações sobre o atentado acabam amplificando a divisão existente do grupo por mostrar que o possível responsável do atentado é um velho conhecido do grupo. Divididos, cada lado resolve chamar alguém para ajudar. Por causa disso, novos personagens surgem na história. De um lado, Homem-Aranha (Tom Holland), de outro, Homem-Formiga (Paul Rudd). E, ainda, de forma independente por causa de uma circunstância ocorrida durante o atentado em Viena, Pantera Negra (Chadwick Bosema).
Tecnicamente o filme cumpre bem sua (grande) missão e os diretores sabem exatamente onde colocar suas câmeras para que a sensação seja ainda mais ressaltada. O confronto final é filmado com precisão e cuidado, já gabaritando como umas das cenas mais marcantes da história do cinema. Capitão América: Guerra Civil é, no fim das contas, um filme de super herói de HQ que discute questões políticas muito próximas a nós brasileiros. Ou seja, a polarização ideológica, os limites éticos e a equação delicada que há quando o instinto age sobre a razão. E ainda abre caminho para a entrada do Homem Aranha (uma surpresa promissora) e Pantera Negra (já queremos um filme solo do personagem).
Ao mesmo tempo em que nos divertimos, ainda somos brindados por reflexões para além do DNA escapista do filme. Uma delas é talvez a mais importante: “Existe vida inteligente no cinema”. E atualmente ela se chama Capitão América: Guerra Civil. Viu, mais do que personagens icônicos, a Marvel ainda se sustenta como grande ícone do gênero.
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