Como entender um artista sem conhecer sua obra? Um dos tropeços de “Cézanne e Eu”, está no seu roteiro que não contextualiza ou mesmo mostra as obras dos dois gênios que são amigos de infância, o pintor Paul Cézanne e o escritor Emile Zola.
Se o espectador não é familiarizado com alguma das obras desses personagens, ele terminará a projeção da mesma maneira que iniciou, e se tiver algum interesse terá que pesquisar por conta própria, já que as obras de Cézanne que aparecem são incompletas e destruídas pelo próprio artista em seus momentos de fúria, causados pelo sistema que demorou anos para reconhece-lo ou pela postura das pessoas que estavam a sua volta. A literatura de Zola é abordada ao longo do filme, mas o espectador pode ficar perdido se não tiver lido seus livros, em momentos em que se comenta a respeito dos personagens das obras literárias.
O filme, conta de forma não linear a história de amizade, amor e raiva entre Cézanne (Guillaume Gallienne) e Zola (Guillaume Canet), que se conhecem desde os tempos de colégio, quando o pintor, filho de um aristocrata contra o qual se rebelava, ia tentar a vida como artista sem sua ajuda financeira, e o autor, que vinha de uma família muito pobre, abraçava a literatura que o tornaria rico e famoso.
Essa inversão social dos papéis entre os amigos foi um dos atritos que perdurariam a vida inteira, mas o que provavelmente causou maior ruptura entre eles, foi quando Zola se casou com uma antiga namorada de Cézanne (que a abandonou, mas isso não impede o ódio no coração do pintor, que nunca aceitou essa situação).
A parte técnica do filme é perfeita. Sua bela fotografia, a utilização das tonalidade de cor em cena, e o jogo de câmeras feita pela diretora Danièle Thompson, que é muito bem realizado e chama muito a atenção por realçar as belezas exploradas pelo longa em si. Se o roteiro mostrasse melhor os trabalhos artísticos dos artistas, fazendo com que o espectador se inteirasse mais a fundo de suas criações, poderia ter sido uma obra com maior relevância. Contudo, com essa lacuna, “Cézanne e Eu” acabou sendo uma obra de beleza sem profundidade.
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