Existe uma bifurcação categórica que ordena os filmes em dois gêneros: filmes de arte e filmes de entretenimento. Ocorre que a linha que separa os dois segmentos pode ser bastante tênue, ao contrário do que costuma se apregoar. Ora, se o cinema é por si só uma manifestação artística, filmes chamados de entretenimento também se enquadram nessa designação? Tomando por base uma elucidação doutrinária, filmes de arte são aqueles que desencadeiam no espectador uma visão crítica, um pensar relevante ou ainda, que revele um conceito artístico e estético jamais ou raramente visto, ao menos da forma apresentada.
Já os filmes de entretenimento têm por único desígnio divertir, sem fazer pensar muito (ou nada), apenas proporcionar ao espectador aqueles minutos de diversão sem compromisso, para muitas vezes mais tarde ser esquecido quase que por completo. Em geral filmes de arte também costumam ter orçamento reduzido, ou não tão inflado quanto os dos blockbusters, e se focar mais nos diálogos e no desenvolvimento dos personagens, enquanto filmes de entretenimento possuem um orçamento muito maior e distribuição idem, valorizam mais a ação, a comédia e os efeitos especiais do que os personagens. São realizados como um produto para ser consumido e gerar lucro, de preferência logo na primeira semana de exibição. Mas muitas vezes não deixam de trazer em seu âmago um valor artístico, por menor que seja, uma vez que por mais que os executivos e os produtores imponham sobre o cineasta toda uma aritmética nefasta visando à usura o diretor antes de tudo é um artista que fará de tudo para imprimir, ainda que de forma tímida, a sua marca e colocar uma mensagem ou conteúdo de caráter reflexivo, mesmo que pouquíssimos compreendam.
Isso permitiria serem a esses títulos serem considerados, de certa forma, como filmes de arte? Daí a denominação gera dubiedade, até por que para muitos os chamados filmes de arte também podem ser divertidos. Dentro do conceito de filme de arte, poderíamos citar como exemplo, “As Invasões Bárbaras” de Denys Arcand, “Birdman”, de Alejandro González Iñárritu, a trilogia das cores de Krzysztof Kieślowski (“A Liberdade é Azul”, “A Igualdade é Branca” e “A Fraternidade é Vermelha”), alguns filmes de Pedro Almodóvar, toda a filmografia de Stanley Kubrick e Glauber Rocha, entre outros. Exemplos de filmes de entretenimento temos aos borbotões, mas vamos nos ater aos mais emblemáticos:”Os Goonies”, “Viagem insólita”, “Jurassic Park”, “Vingadores” e outros seriam os melhores exemplos.
Convenhamos que proporcionar emoções em doses certas, mesmo que frívolas, não é tarefa das mais fáceis (algum crítico de arte se arriscaria?). Será que um cineasta com aproach de uma linguagem mais séria (munido de um orçamento milionário é claro) conseguiria nos brindar com uma sequência como a das bicicletas voadoras de E.T.com o mesmo brilhantismo de um Steven Spielberg? Daí surgiria uma terceira categoria: o entretenimento com arte? Nesta podemos citar candidatos como “Star Wars”, “Superman – O Filme”, a trilogia “Indiana Jones”, o primeiro “Matrix”, a saga do “Senhor dos Anéis”. Filmes essencialmente escapistas mas com uma presença artística e de certa forma até reflexivo em seu conteúdo.
Há também filmes essencialmente artísticos, mas que não abandonam a proposta de entreter, como “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”, “Boyhood”, “O Ano Mais Violento” e “Enquanto Somos Jovens”. Contudo existem também os filmes imbuídos de um verniz artístico mas não passam de películas enfadonhas, sem conteúdo e que nada dizem, mas ainda assim conquistam estudantes de cinema, pseudo-intelectuais e afins. O maior exemplo são os filmes da “era de ouro” Miramax, principalmente aqueles que foram indicados ao Oscar. Recentemente tivemos exemplos como “Cala A Boca Phillip” e “Amante A Domicílio”.
No final das contas, mais vale um bom e honesto filme de entretenimento do que uma farsa rotulada como arte? Enfim, é sempre válido quando formos assistir a um filme, ter sempre na mente que quem está por trás da câmera, acertando ou errando, é sempre um artista.
Comente!