Cinemateca Ambrosia: Bonequinha de Luxo

“Acho que nunca tinha tomado champanhe antes do café da manhã até hoje! NO café da manhã, várias vezes, mas nunca antes!”

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A declaração do jovem escritor Paul Varjak sintetiza a transformação que a vizinha Holly Golightly provocara em sua vida. Com Holly, tudo era mais controverso, glamuroso e divertido, no clássico de 1961, Bonequinha de Luxo.

Um conto, uma nobre e um estilista

Foi em 1958 que a Random House Publishing publicou uma compilação de quatro contos do escritor Truman Capote (1924-1984), incluíndo Breakfast at Tiffany`s.

No conto, o festejado escritor (dramaturgo e jornalista) narra um ano da Holly2curiosa relação entre um jovem autor (o narrador não-nomeado) e sua charmosa vizinha, a alegre Holly Golightly. Moça do interior, fugiu para Nova York com um leve verniz de francês e um talento para levar os outros à loucura com seus horários pouco-ortodoxos e a atração pelo luxo. Dedicando-se a mais antiga das profissões, acaba se envolvendo com um mafioso, irritando seu vizinho japonês e seduzindo um diplomata brasileiro, recorrendo à joalheria Tiffany`s (um lugar onde nada de errado pode acontecer) como refúgio quando a realidade parecia terrível demais para ser suportada.

O conto foi bastante elogiado, e é uma das obras-primas do escritor, que disse ter gostado muito dele, embora não tenha ficado feliz com as alterações que sua história sofreu quando foi tranformada em filme, pelas mãos do diretor Blake Edwards. Contudo, é ao filme e especialmente à Audrey Hepburn que Holly Golightly deve sua enorme popularidade.

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Audrey, uma atriz belga de ascendência nobre, estreou nos cinemas com grande sucesso em 1953, contracenando com Gregory Peck em A Princesa e o Plebeu, que lhe rendeu seu primeiro Oscar (fazendo dela uma das poucas atrizes a ganhar o prêmio em sua estréia). Sua carreira deslanchou, e no ano seguinte ela protagonizou Sabrina (que lhe rendeu sua segunda indicação ao Oscar), filme que a projetou como ícone da moda.

O figurino de Sabrina foi desenhado pelo estilista francês Hubert de Givenchy, e aí começou a longa amizade entre ele e a estrela, que era sua musa. Desde então, Givenchy desenhava a maior parte do guarda-roupas de Audrey, tanto em seus filmes quanto na vida particular. Foi com os elegantes vestidinhos pretos de Holly Golightly que musa e criador entraram em definitivo na história da moda, redefinindo o casual chic, e fazendo do filme um símbolo do glamour.

A história

O filme começa com uma das cenas mais memoráveis do cinema, quando um táxi amarelo deixa a elegante Holly às portas da joalheria Tiffany`s da 5ª Avenida. Ela está tomando seu café após uma noite difícil, e vai para casa ao som da lindíssima música-tema, Moon River, composta por Henry Mancini.Holly5

O jovem escritor Paul Varjak se muda para o prédio que Holly divide com vizinhos de todos os tipos, num apartamento comprado e decorado por sua amante, a Sra. Failenson.

Como um gato, Holly entra pela sua janela, fugindo de um admirador mais caloroso, e aí começa a amizade entre a garota de programa e o gigolô, que se esforça para entender as esquisitices da moça, que escondem sua fragilidade, enquanto tem a vida alterada pelo modo curioso com que ela vê a vida.

Holly o estimula a voltar a escrever, dá uma engraçadíssima festa em sua casa e lamenta com o amigo as tentativas frustradas de dar um “golpe do baú”. Seu passado é revelado pelo ex-marido texano que tenta resgatá-la, mas ela prefere continuar sozinha, com seu gato sem nome (por que ambos eram vagabundos, que não pertenciam um ao outro).

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Quando enfim parece que Holly fisgará seu milionário, é chegada a hora de decidir se a amizade entre os vizinhos é mesmo só uma amizade, ou se finalmente a garota (e o gato) encontrariam tudo aquilo de que realmente precisavam.

Luxo

O filme fez grande sucesso, e ganhou dois Oscars (Melhor Trilha Sonora e Holly7Melhor Canção), e foi indicado para outros três.

Audrey tornou-se a segunda mulher a usar o diamante amareloTiffany, a famosa pedra lapidada pela joalheria, em fotos de publicidade do filme.

Truman Capote, que queria Marilyn Monroe no papel da garota de programa, se disse enganado pela Paramount Pictures, já que além da escolha de Hepburn, as alterações em seu conto pareciam gratuitas (no conto, não há envolvimento romântico entre Holly e o vizinho, e prostituição é discutida de forma mais aberta). Contudo, o filme fez as vendas do livro subirem, e Holly realmente tornou-se um fenômeno cultural. Como é natural, sucesso gera consumo, e as icônicas fotos de Audrey como Holly estampam bolsas, camisas, almofadas e objetos de decoração até hoje.

Um olhar mais severo pode classificar Bonequinha de Luxo como uma comédia romântica sem muita profundidade, uma desculpa para um desfile de jóias e roupas de grife; mas basta deixar-se envolver pelo charme de Holly que nos encantamos por ela, e passamos a ver sua tragédia. As questões do livro estão lá, mesmo maquiadas por um final hollywoodiano: um olhar positivo sobre a crueza da vida, a maldade de um sistema que vende ilusões, e a graça em se viver entre altos e baixos.

Holly8E num dia em que tudo parecer vermelho, por que a vida é tão cruel que nem o azul poderia explicar, que todos tenhamos um refúgio. Um oásis de beleza e perfeição que nos ajude a ver que tudo é como um diamante multi-facetado, com a luz fazendo que brilhe uma face de cada vez…

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Comentários 3
  1. Parabens pelo artigo. Tenho de assumir que amo o filme tanto quanto o livro. Pode sim ser futil mas tem tanta graça, e Audrey Hepburn, em qualquer papel era espetacular. Eu tenho o poster! Pena que o cinema não faça mais obras tão bonitas.

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