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Cinemateca: “Nosferatu” (1922) ainda reina absoluto entre os vampiros do cinema

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Há alguns anos surgiu a seguinte anedota: após ver o filme “Crepúsculo” com a neta, a atriz Lauren Bacall presenteou a menina com um DVD de “Nosferatu”, dizendo que o clássico mudo de 1922 é que era um filme de vampiro digno de ser visto. Não duvido que esta situação tenha acontecido de verdade, e concordo com Miss Bacall: não houve outro vampiro tão primitivo e assustador quanto Nosferatu.

Hutter (Gustav von Wangenhiem) é mandado por seu patrão para um castelo isolado, onde mora o excêntrico Conde Orlock (Max Schreck). A missão de Hutter é fechar um negócio imobiliário com o pálido nobre. Conversa vai, conversa vem, Hutter mostra ao conde uma fotografia de sua esposa Ellen (Greta Schröder) e recebe como resposta uma excitada observação: “Que belo PESCOÇO ela tem!”. Mais tarde Hutter acidentalmente corta o dedo com uma faca, e a visão do sangue causa uma perturbadora reação no Conde Orlock.

O conde sai do seu castelo e vai para uma cidadezinha alemã espalhando pragas e ratos pelo caminho. Sua intenção é uma só: conferir a beleza do pescoço de Ellen. A este ponto, quem ainda não sabia já deve ter adivinhado: Orlock é um vampiro. Ou melhor, o Conde Drácula do cinema mudo alemão.

Sim, o Conde Drácula. A ideia inicial era adaptar o livro para o cinema, mas os herdeiros de Bram Stoker impediram a compra dos direitos autorais pelo estúdio. Mas nada de desistir: diretor e produtores seguiram com o projeto, filmando a mesma história e apenas mudando os nomes dos personagens e o (hoje emblemático) final. Engenhoso? Mais ou menos: era um óbvio caso de plágio, a família de Bram Stoker processou o estúdio e ficou decidido que todas as cópias do filme fossem destruídas (o próprio estúdio Prana Film foi à falência depois de Nosferatu, sua primeira e única produção). Felizmente, graças ao santo protetor do cinema, isso não aconteceu e hoje ainda podemos admirar a instigante obra-prima.

Tendemos a imaginar que, quanto mais velho o filme, piores os efeitos especiais. Muito pelo contrário: é no jogo de luz e sombra do cinema mudo que nossos medos mais infantis são redespertados, e até o mais corajoso fã de “O Exorcista” se acaba em gritos e arrepios. Não é à toa que o subtítulo de Nosferatu é “uma sinfonia do horror”.

O ator Max Schreck foi um caso clássico de intérprete imortalizado por um só personagem. Apesar de ter feito mais de 40 películas entre 1920 e 1936. Alto, esguio e com orelhas levemente pontudas, fez carreira no teatro e apareceu tanto em filmes mudos quanto falados, sem jamais interpretar um protagonista com o mesmo êxito. Entretanto, virou até assunto de sátira: no filme “A Marca do Vampiro” (2000), é insinuado que Max era, de fato, uma criatura que se alimentava de sangue, e fez um pacto com o diretor F.W. Murnau para que Nosferatu fosse filmado.

Mas não é sequer necessário deixar a imaginação voar solta para aproveitar Noferatu ao máximo. Logo o filme completará 100 anos, e a cada dia continua mais perturbador, mais impressionante, mais realista e mais essencial.

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