A escalada do ex-galã Ben Affleck ao panteão dos grandes diretores vem sido filme após filme, cada vez mais promissora. Depois dos ótimos Gone Baby Gone e The Town, o diretor se supera num filme que acampa um dos episódios mais dramáticos da política externa americana (ainda que pouco explorado), com uma segurança e seriedade de veterano. Argo existe para acabar de vez com qualquer tipo de desconfiança sobre sua capacidade como realizador, tanto na esfera da indústria, como na artística.
Tudo começa no dia 4 de novembro de 1979 quando a embaixada americana no Irã foi atacada por militantes, fazendo inúmeros reféns. No meio desse caos, seis americanos conseguiram fugir por uma saída secreta e se refugiaram na casa do então embaixador canadense. Após acharem fotos de todos que estavam na embaixada, os militantes descobrem que faltam 6 pessoas e vão à caça dos mesmos. A CIA, sabendo disso, chama o especialista em “exfiltração” Tony Mendez (Ben Affleck) que arruma um plano incrível de inventar uma gravação de um filme (uma ficção científica, algo em voga na época) e fazer os seis se passarem por parte dessa produção e assim retirar todos dessa zona de perigo.
Ao focar sua câmera na urgência do acontecimento, Affleck toma um assertivo cuidado para dimensionar a humanidade dos atores da tensão. Com isso transcende o viés documental de seu roteiro para dramatizar brilhantemente a trama corrente. Ainda consegue inserir uns respiros cômicos para debochar da quase recém-nascida indústria dos blockbuster de Hollywood. A escalação de John Goodman e Alan Arkin traz muita personalidade ao thriller. O primeiro interpreta o lendário John Chambers, artista famoso no mundo do cinema (ganhador do Oscar de melhor maquiagem por Planeta dos Macacos em 1968) que tem papel primordial para que a missão aconteça. Já o segundo interpreta Lester Siegel, produtor famoso de décadas atrás, que junto com Chambers eram os únicos que sabiam de todo o plano. Duas atuações que já cintilam em premiações de ator coadjuvante.
Claro que a estrutura narrativa do filme reflete alguns clichês de seu gênero, mas Affleck transfere a sua maturidade (um tanto reluzente, através de seus filmes) para seu filme com muita convicção. A pertinência histórica é respeitada mas age para engrandecer a narrativa (salve sua edição ótima) e estabelecer um ponto de reflexão sobre questões políticas e pessoais, afinal até que ponto um indivíduo deve pagar pela nação que representa? Ou até onde vai esse antagonismo ianque frente ao Irã e adjacências? São questões que se revelam atualíssimas, e Ben Affleck soube se fazer relevante pelo discurso de uma estabelecida relevância. Imperdível.
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