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Com erros e acertos, “Branca de Neve” consegue entreter modernizando o clássico

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Se um remake de “…E o Vento Levou” seria uma heresia, tanto que 86 anos se passaram e não houve quem repetisse a saga de Scarlett O’Hara na telona, não seria exagero dizer que “Branca de Neve” entraria no mesmo hall. Afinal, “Branca de Neve e os Sete Anões”, a animação pioneira da Walt Disney Studios de 1937, foi um marco tanto tecnológico quanto narrativo, estabelecendo as regras de como se produzir filmes infantis, assim como um imenso sucesso de bilheteria em sua época. Com faturamento de US$ 8 milhões sustentando por um tempo o recorde de filme sonoro de maior bilheteria já feito.

O novo lançamento da casa do Mickey se inclui na já surrada empreitada de live-actions, que nunca se equiparam a suas contrapartes animadas, mas rendem bom tostão, por isso o estúdio não deve abrir mão desse tipo de projeto tão cedo. Só que, ao que parece, apesar de ser o maior clássico da Disney, a produção não demonstra a mesma ambição de “O Rei Leão”, por exemplo.

Inspirado no conto clássico dos Irmãos Grimm, “Branca de Neve”, acompanha a jovem princesa do título (Rachel Zegler), cuja beleza desperta a inveja de sua madrasta, a Rainha Má (Gal Gadot). Determinada a eliminar a enteada, a vilã ordena sua morte, mas Branca de Neve consegue escapar e se refugia na floresta. Lá, encontra uma cabana onde vivem sete anões simpáticos, que a acolhem e se tornam seus aliados. No entanto, ela não está totalmente a salvo, já que a Rainha Má tem um plano cruel para eliminá-la de vez.

A produção chega envolta em muita polêmica, que vai desde a escolha de uma atriz de origem latina para o papel principal (quando se esperava alguém de origem europeia) até uma, a princípio, exclusão dos sete anões com objetivo de se esquivar de possíveis acusações de ferir o politicamente correto. Isso somado à desconfiança já habitual que cerca as versões com atores fez com que se criasse muita expectativa negativa em relação ao projeto, o que na verdade não se justifica quando se assiste ao resultado final.

Os anões em CGI, tão criticados, parecem ter melhorado significativamente com o filme finalizado. Algo que não é incomum em se tratando de efeitos especiais. No entanto, a recriação da clássica sequência protagonizada por eles nas minas parece tirar o espectador de um live-action para arremessá-lo em uma animação 3D. Contudo, a inserção dos personagens às pressas no meio do processo, agora como “criaturas mágicas”, deixou o tempo exíguo demais para um trabalho mais caprichado. Isso explica também o fato de os personagens não terem função na trama. São apenas um aceno ao longa dos anos 30 e um alívio cômico.

Quanto à escolha das protagonistas, ficou provada que as expectativas estavam invertidas. Rachel Zegler esbanja carisma, presença, além de contar com uma bela voz, mais do que adequada para viver a personagem. Ela equilibra perfeitamente a bondade e generosidade da personagem do conto com um ímpeto para se adequar às heroínas atuais. E o faz com fluidez e naturalidade. Já Gal Gadot como a Rainha Má, apesar da caracterização perfeita, peca na atuação. Uma vilã fraca debilita uma trama, e escolher uma atriz limitada para interpretar o maior símbolo de vilã da cultura pop foi uma falha imperdoável.

Marc Webb (“500 Dias com Ela”, “O Espetacular Homem-Aranha”) faz um trabalho correto e um bom uso das cores que remetem à animação, fugindo dos tons pastéis que os diretores de live-actions da Disney insistem em usar para soar mais “realista”.

O roteiro de Erin Cressida Wilson (“A Garota do Trem”) segue a premissa básica do conto. Embora peque por soluções simples demais para certas situações, tem como ponto positivo expandir o universo para conhecermos melhor as origens da personagem e como funciona o reino. A solução encontrada para tornar a relação de Branca de Neve com o Príncipe mais atual foi transformá-lo em um rebelde chamado Jonathan (Andrew Burnap), que luta contra a tirania da Rainha. Apesar de adaptar uma trama da chamada Era de Ouro da Disney, seu approach é muito maior com a estrutura narrativa das histórias da chamada Renascença do estúdio, como “A Pequena Seria”, “A Bela e a Fera” e “Mulan”.

Webb também executa os números musicais com destreza, acenando para a era de ouro dos musicais hollywoodianos e para a Renascença. Há até uma canção I Want (música que exprime os desejos da protagonista, característica das animações dos anos 1990) chamada ‘Waiting on a Wish’. As novas canções originais são compostas por Benj Pasek e Justin Paul, responsáveis pelas trilhas de “La La Land” e “O Rei do Show”, mas ‘Heigh Ho’ e ‘Wihstle While You Work’ também estão lá, apenas modificadas, não somente nas letras como nas .

Claro que o novo “Branca de Neve” não substitui, ou mesmo se equivale à animação original. Na verdade nem possui esse intuito. Ao que tudo indica as maiores expectativas da Disney para esse ano residem em “Lilo & Stitch”, com apelo mercadológico muito maior para a criançada de hoje em dia. Ainda assim, com erros e acertos, a modernização do clássico consegue arrancar alguns sorrisos e proporcionar um entretenimento minimamente satisfatório.

Branca de Neve

Branca de Neve
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