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Comédia francesa Notre Dame traz leveza e frescor no enredo

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Quando tudo vai mal, levantar a moral da população pode ser um antídoto tão bom quanto resolver os problemas que a afligem. Esta é a opinião da prefeita e de Paris na comédia francesa Notre Dame. A prefeitura lança um concurso para revitalizar a praça da famosa catedral, e mais de mil arquitetos, designers e curiosos se inscrevem.

Quem não se inscreve é a arquiteta Maud Crayon (Valérie Donzelli): sua vida já está atribulada demais para pensar em entrar em um concurso. Divorciada, mãe dois filhos, em um relacionamento complicado com o ex-marido, cheia de trabalho e com muito azar: ao contrário dos colegas que estão trabalhando em projetos para o concurso de Notre Dame, Maude não quer nem pensar no assunto.

Numa noite de tempestade, daquelas noites em que coisas mágicas e inexplicáveis ocorrem, Maud recebe a notícia de que um projeto em que trabalhou com afinco foi rejeitado, e sua maquete vai parar no monte de maquetes inscritas para o concurso. Maud ganha o concurso por unanimidade e, durante a cobertura jornalística da obra, que se torna polêmica, ela reencontra um grande amor, o jornalista Bacchus Renard (Pierre Deladonchamps).

Desfila à nossa frente uma galeria de divertidos personagens coadjuvantes, como o chefe de Maud que, sempre com AirPods nas orelhas e ar de superioridade, quer tirar proveito da fama repentina da funcionária; e o colega de trabalho Didier, por quem a irmã de Maud se sente atraída. Além deles, há a excêntrica Denteprefeita de Paris, vestida com plumas e dizendo frases de efeito como esta: “As derrotas, assim como a adolescência ou a calvície, existem para ser superadas”

Muita coisa mudou desde a concepção e filmagem do longa. Estamos vivendo um momento difícil, que talvez nem a restauração da catedral de Notre Dame seja capaz de aliviar ou apagar de nossa memória, e a catedral precisa realmente de uma restauração, visto que houve um grande incêndio no local em abril de 2019. O filme teve cenas rodadas no interior da catedral antes deste incêndio – e Valérie Donzelli afirma que não conseguiria realizar o filme se o incêndio tivesse acontecido mais cedo.

As músicas são agradáveis e divertidas, combinando com a leveza e jovialidade do filme. Valérie Donzelli, protagonista, roteirista e diretora de Notre Dame, imprime na obra alegria e otimismo. Valérie escreveu o roteiro em 2015, quando vivia um mau momento na vida pessoa e profissional. Suas semelhanças com Maud não param na maré de azar: como a personagem, Valérie também estudou arquitetura e não se deixa abater pelas dificuldades.

No cinema, nada é por acaso. Preste atenção ao nome dos personagens de Notre Dame: Maud significa “forte nas batalhas”, sendo originalmente uma abreviação de Matilda. A protagonista de Notre Dame certamente demonstra força ao enfrentar suas batalhas. Já Bacchus faz referência a Baco, deus do vinho e do prazer na mitologia grega, enquanto Renard significa raposa em francês. Trazendo prazer e esperteza para a vida de Maud – duas coisas de que ela precisava naquele momento – o personagem com certeza não foi nomeado à toa.

Não era de todo necessária para a história a subtrama da gravidez de Maud, embora seja interessante ver uma mulher grávida namorando um homem que não é o pai do filho que ela espera. Quebrar este tabu vai de encontro ao projeto de Maud, criticado por ter uma forma fálica. Também pode parecer estranho o fato de Maud só usar um vestido ao longo do filme todo, assim como há estranhamento em algumas cenas mais experimentais – mas nada que atrapalhe a apreciação da obra.

Com um ou outro momento na história difícil de acreditar, Notre Dame faz muito bem aquilo que propôs fazer: serve como um sopro de ar fresco em meio ao caos, um escapismo leve sem ser bobo, a história de recomeços que, apesar de assustadores, são necessários.

Nota: Épico – 4.5 de 5 estrelas

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